A FUGA ADIADA

A FUGA ADIADA

Sussurra o vento no telhado

Balança a copa da gameleira

Ao longe há escuridão

Treme uma réstia de luz

É monótona a cantiga do sertanejo

Como é o bater nas cordas da viola

De repente arrebenta o tardio coaxar

Adoça-se o ar com cheiro de flor

Uma névoa desce na estrada

O caminhante se cobre com seu manto

Na janela a donzela se arrepia

De vigília o pai tosse

O vento leva o som ao mancebo

A menina se esconde atrás da cortina

São duas horas e ninguém dorme

O galo bate asas e se aquieta

Um assobio corta a madrugada

Uma garganta sufoca o choro

A fuga foi adiada

(maio/1984)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 06/06/2011
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