A FUGA ADIADA
A FUGA ADIADA
Sussurra o vento no telhado
Balança a copa da gameleira
Ao longe há escuridão
Treme uma réstia de luz
É monótona a cantiga do sertanejo
Como é o bater nas cordas da viola
De repente arrebenta o tardio coaxar
Adoça-se o ar com cheiro de flor
Uma névoa desce na estrada
O caminhante se cobre com seu manto
Na janela a donzela se arrepia
De vigília o pai tosse
O vento leva o som ao mancebo
A menina se esconde atrás da cortina
São duas horas e ninguém dorme
O galo bate asas e se aquieta
Um assobio corta a madrugada
Uma garganta sufoca o choro
A fuga foi adiada
(maio/1984)