ROTOS E TOSCOS

R O T O S E T O S C O S

Antes sibilava o som de asas do futuro

Agora um tropel de casco de cavalos é audível

Avança o séquio do intendente

Os apaniguados estão protegidos das intempéries

Os vassalos são agrupados em bandos

Ainda há os que fazem rufar os tambores

São os mesmos que nada são

Nem ao menos se alimentam de côdea de pão

Nas vestimentas a sorte ou azar

Os paramentados em couro são heróis

Os rotos e toscos vão à frente

São as buchas de canhão

Quando em combate morrem primeiro

Se vacilam, ante um perigo maior são chicoteados

Recuar significa a morte

Não podem ser fracos

Sempre impelidos rumo ao inimigo

Nas conquistas a eles só promessas

Nas derrotas todas as culpas

Nas emboscadas suportam o revés

Estão sempre em cruzadas que não são suas

Exército sem pátria e sem bandeira

Do âmago das suas trincheiras vêm vozes indecifráveis

Seus lençóis são os cascalhos do fundo das valas

Complacência! Só no surdo choro solitário

Ninguém lhes ouve o clamor de misericórdia

Se surgem vagas, recrutam-se subservientes

Lutam com armas ou as próprias mãos

Detê-los é quase impossível, pois a morte lhes é um alívio

Seu comandante é um néscio

Em suas fileiras viaja o desdém à morte

Sua glória está no uso da mortalha

Sua última réstia de luz é a fogueira de seus ossos

Jazem suas cinzas em covas rasas

(dezembro/1992)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 27/05/2011
Código do texto: T2996119
Classificação de conteúdo: seguro