Tarde azul

“Já passou, já passou

me pegou de mau jeito,

mas não foi nada,

estancou...”

Uma chave em troca de um documento,

com foto – de preferência, por favor, tenho pressa

a menina me espera

e hoje vestimos azul.

Pode garoar, poderá cair turbilhões quaresmais

as águas de março não me amedrontam

tenho minha menina

que me espera com os cabelos trançados

e eu hei de destrançá-los delicadamente.

A menina me espera

tenho que roçar meu braço no dela

olhá-la meio de lado

com um de meus mil olhares ternos,

porque hoje vestimos azul.

Quiçá eu lhe escancare portas e janelas

e a convide para adentrar-me

quiçá ela me convide para dançar

e eu aceite, quiçá até ela me prepare um jantar

e eu a coma posta sobre a mesa

a luz de velas, talvez

tocando para ela, quem sabe

“la belle de jour” - quiçá.

Tenho pressa, ela me espera

tenho que despir-me deste azul

para fazer amor com ela

e talvez eu não queira fechar os olhos

e talvez eu me apaixone...

Quiçá eu me desperte pensando nela

ou me deite no deleite de estar ao lado dela.

Quem sabe ela queira pouco

porque querer muito é para fracos e tolos

e eu visto azul.

Talvez eu não esteja mais tão bem sozinho

e a queira olhar com meus mil olhares ternos

talvez eu perca a razão por esta paixão

porque a tarde é azul

e ela há de amar todas as canções.

“Já passou, já passou

se isso lhe dá prazer

me machuquei sim, supurou

mas afaguei meu peito e aliviou,

já falei, já passou”.

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 11/03/2011
Código do texto: T2841383
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