Tarde azul
“Já passou, já passou
me pegou de mau jeito,
mas não foi nada,
estancou...”
Uma chave em troca de um documento,
com foto – de preferência, por favor, tenho pressa
a menina me espera
e hoje vestimos azul.
Pode garoar, poderá cair turbilhões quaresmais
as águas de março não me amedrontam
tenho minha menina
que me espera com os cabelos trançados
e eu hei de destrançá-los delicadamente.
A menina me espera
tenho que roçar meu braço no dela
olhá-la meio de lado
com um de meus mil olhares ternos,
porque hoje vestimos azul.
Quiçá eu lhe escancare portas e janelas
e a convide para adentrar-me
quiçá ela me convide para dançar
e eu aceite, quiçá até ela me prepare um jantar
e eu a coma posta sobre a mesa
a luz de velas, talvez
tocando para ela, quem sabe
“la belle de jour” - quiçá.
Tenho pressa, ela me espera
tenho que despir-me deste azul
para fazer amor com ela
e talvez eu não queira fechar os olhos
e talvez eu me apaixone...
Quiçá eu me desperte pensando nela
ou me deite no deleite de estar ao lado dela.
Quem sabe ela queira pouco
porque querer muito é para fracos e tolos
e eu visto azul.
Talvez eu não esteja mais tão bem sozinho
e a queira olhar com meus mil olhares ternos
talvez eu perca a razão por esta paixão
porque a tarde é azul
e ela há de amar todas as canções.
“Já passou, já passou
se isso lhe dá prazer
me machuquei sim, supurou
mas afaguei meu peito e aliviou,
já falei, já passou”.