Normalidade.

Porque a normalidade é salgada e intolerável.

Talvez a normalidade seja um mar mais calmo ou uma morte mais lenta.

Talvez seja um sol coberto pela sombra de seus pés.

A normalidade cansa os ombros longos de tanto nadar.

A normalidade é um exercício repetido no qual o músculo não consegue se adaptar.

A adaptação vira um desconforto. Você pode sentar no sofá, deitar numa cama de casal, mas você sente um mal jeito. Nada fica bom.

Pois você vive numa fadiga sem complexidade, intolerável ao seu meio ambiente de viver. Estabelece as regras mais sem graças, porque as regras viram comuns; porque a vida vira comum.

Tão ordinário seria se me deixasse acalentar pela fadiga, quanto se me dispusesse a viver a subvida que é a normalidade, com suas tranças de pedra fria e seu espectro que corrói o ser aos poucos, indolormente, completamente.

Não seria eu se permitisse a atrocidade de ficar calado em meio aos povos que cultuam a inércia. Eu não cultuo a inércia! Eu não cultuo nem os povos. Cultuo menos a normalidade.

Renato F Marques
Enviado por Renato F Marques em 01/03/2011
Código do texto: T2821871
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