VAMPIRO CONTEMPORÂNEO.

VAMPIRO CONTEMPORÂNEO... #1

SOU UM VAMPIRO DA NOVA ERA.

SOU UM VAMPIRO DO TIPO QUE ESPERA PENSAR.

ESPERA PENSAR EM ALGO ESTRANHO...

PENSAR SER VAMPIRO CONTEMPORÂNEO.

SOU LENDA VIVA

OU VAGA LEMBRANÇA

COMO UM INICIANTE

SEM A MENOR IMPORTÂNCIA.

SOU UM VAMPIRO DO TIPO QUE ESPERA...

ESPERA PELO ULTIMO CIGARRO,

PELO AFAGO DE QUALQUER DONZELA

NADA ME DIFERE DE MEUS AMIGOS E IRMÃOS...

FILHOS DE OUTROS SÉCULOS, OUTRA ENCARNAÇÃO.

SOU LENDA VIVA

UMA AMARGA LEMBRANÇA

CONCEBERAM À MIM

E TU NÃO ERA AINDA CRIANÇA.

SOU UM VAMPIRO, E SEM ESFORÇO

TE PEÇO O PESCOÇO, PRA QUE EU POSSA MORDER

SOU UM VAMPIRO, PROCURE ENTENDER

SOU ETERNO, MAS AOS POUCOS POSSO MORRER.

SOU LENDA VIVA

MAS RESTA-ME A ESPERANÇA

QUANDO OS TEUS OLHOS FECHAREM,

TORNA-ME INESQUECÍVEL LEMBRANÇA.

CIDADE MAUSOLÉU... #2

SOU VAMPIRO

MAS SOMENTE SOBRE O TEU CÉU CINZA

SOU POUCO E SABES...

QUE O MEU AMOR É MAIOR,

E MINHA ALMA SUBURBANA.

DISPONHO-ME À PERAMBULAR POR TUAS RUAS,

NA MADRUGADA, ÉS UM LABIRINTO COLOSSAL.

POIS A CHUVA QUE TE BANHA

HORA FINA ...HORA TAMANHA.

TORNA UM CÁRCERE O QUARTO SUJO,

IMPEDE QUE EU DESBRAVE ESSE MUNDO.

MINHA CIDADE É ASSIM, SANTIFICADA...

TEM NOME DE SANTO,

FOI POR VEZES CRUCIFICADA

SE PRA SER SANTO É PRECISO PERDER A VIDA...

PREFIRO SER VAMPIRO, TORNA-ME LENDA VIVA.

ALCOVA... #3

ABREM-SE AS PORTAS DA NECRÓPOLE PAULISTANA...

ESTENDE-SE O TAPETE VERMELHO... ESCARLATE, CEGA OS OLHOS.

EM SEGUIDA O VÉU NEGRO EM TREVAS DENSAS,

REVELAM-ME SUA VIL NATUREZA.

TROPEÇO NA TORPEZA DE TEUS ATO, PEREÇO ANTE TEU AÇOITE

E VEJO, ÍNFIMAS CASTAS APRESENTAM-SE,PONTUALMENTE...

É MEIA NOITE.

TEUS CASTELOS CINZAS, TONS TÃO CINZA, NAS TUAS MORADAS...

A CAMARADAGEM AGRUPADA FESTEJA...

É EUFORIA NAS FAVELAS, ALFORRIA NAS SENZALAS.

AS CASTAS ÍNFIMAS, TORNAM-SE INTIMAS NO CARNAVAL,

NAS NOITES FRIAS DE TEMPORAL.

EIS QUE A MAUSOLÉU TRAZIA-ME UMA NOVA NAU...

SEI, LEVAS TANTAS VIDAS VENDAVAL.

SEI, NINGUÉM JAMAIS TE AFRONTARIA,

TEU VENTO FORTE SUCUMBIA,

INCLUSIVE OS IMORTAIS.

PERCORRIA SOBRE A POESIA, MINHA LÍNGUA PORTUGUESA.

EU CAMINHAVA NESSA ROMÁRIA DE INCERTEZAS...

PREVIA-ME EM TI CIDADE MAUSOLÉU,

ÉS MEU CARROSSEL DE DEVANEIOS.

ENQUANTO RASGAVA TUA FANTASIA,

VIA O EMPECILHO E A PERIPÉCIA,

VIA O PRECIPÍCIO E A DECADÊNCIA.

NÃO SABIA, EU, O MORTO-VIVO.

MESMO COM TODA A MINHA CONSCIÊNCIA.

ACOMPANHAVA CADA PASSO DESTA REALIDADE,

PORÉM SEM FORÇA OU SEM VONTADE...ENLOUQUECIA.

SE ESVAÍA A SANIDADE...

...É POR FIM O FIM DA MADRUGADA.

E NA PENUMBRA, SOU TRANQÜILO, SOU FUMAÇA...

SOLTA NÉVOA NA RELVA DE UMA PRAÇA.

E NELA ENCONTRO MEU ASILO,

MEU DESCANSO NA ALCOVA DO...

VAMPIRO.

LOUIZ DE MEDHEIROS.

Louiz de Medheiros
Enviado por Louiz de Medheiros em 13/02/2011
Reeditado em 14/02/2011
Código do texto: T2788761