Faça o que eu Faço

O que eu faço???

Eu brinco com as palavras!

Eu as abduzo...Ou será que sou abduzido por elas?!

Deveras assim o fosse, fossilizado das letras,

A vida acimenta o verbo, e eu entro com o azulejo, a tinta, a cor...

Dou contorno, acabamento, calor...Vida!

O verbo é a minha ferramenta, com ela faço qualquer coisa que

Precisa de conserto, calibro-a com calma, dou equilíbrio ao corpo e alimento á alma,

Alforriado fico, como quem não se deseja escravizar pelo concreto senhor do tempo,

Eu atraso a cinzenta hora, ou mesmo avanço no colorido contra-tempo...!

O verbo é a trilogia do mais- que- perfeito,

Nele reside o pai, o filho e o espírito santo, que ungem-nos com o sagrado manancial da vida,

E nada dá mais honra ao verbo, como o que silencia e viaja pelos contornos de suas sutis viagens,

Que aborta de si, o silencio acinzentado e lúgubre do santo sepulcro.

Brincar com as palavras é como brincar com fantoches, damos movimento ao inanimado, semente às plantações, alimento ás gerações..Linimento às feridas, ungüento à alma que sangra no corpo escravagista...

Brincar com as palavras é sentir a alegria no rosto da criança, quando chega o fim de semana...Livre das amarras, das obrigações, livre pra correr, pra decifrar, o que é esta liberdade, tão grande e ao mesmo tempo, ser contorcionista, para fazê-la esticar-se um pouquinho mais e mais....e eternamente mais!!! Até ser tempo de só existirem os finais-de-semana, assim são os que brincam com as palavras, tardes infinitesimalmente crepusculares, um pouco da magia do céu do dia, um pouco do negrume majestoso da noite, feito pela alquimia do criador.

A poesia é a filha maior do verbo, letras enfileiradas, frutificadas como árvore prenha de frutas alfabéticas...

Sempre gestantes de sementes, que se espalham pelo solo da pátria mãe gentil, formando novas árvores de amor , combinando suas frutinhas vogais, espalhadas pelo mundo a fora, podem existir até ervas daninhas, mas certamente que o verbo do amor se espalha muito mais, para quem vive a brincar com as incessantes lavras das palavras...E é isso que eu faço.