Cuidado com eles!
Não canto o desencanto,
Mas canto o espanto;
Eles querem tanto
Que eu pareça fraco,
Que eu precise deles,
Que não me aborreça;
Que pareça santo.
Querem o meu sangue
Em salvas de prata;
Que eu produza ouro
Mas que eu vire lata,
Que eu coma veneno
E chame a medicina.
Que eu seja sereno
Que essa é a minha sina.
Eles querem tudo:
Me fazer sujeito
Que eu bata no peito,
Seja brasileiro,
E chame um engenheiro
Se eu não tiver casa.
Que eu seja franco,
Que passe no banco,
Que eu tenha um nome,
Que vá no machado
Se estiver com fome.
Que eu seja da igreja,
Aprenda no ceja,
Que eu tome cerveja
Até ficar tonto,
Que a minha música
Seja sertaneja
Que aí estou pronto.
Eles querem muito
Mas eu quero um pouco;
Quero todo o mundo
Que não seja surdo
Pra falar de arte,
Essa é a minha parte
Nesse latifùndio.