(DES) Construção...1978 1. Ed., 2002 - 2a. Ed.
(DES)Construção...
O escritor Otto Maria Carpeaux afirmava que a literatura e um fenômeno sócio-histórico e, portanto, deveria ser entendido com um dos aspectos da luta do ser humano pela afirmação social. O que o levou a sustentar a tese de que o escritor deveria ser compreendido como produto de Alguns livros, inclusive, em função desse vínculo com a experiência sociocultural de seus autores, são expressivos de certas épocas. Talvez por isso, poetas como Homero, Dante, Petrarca, Shakespeare, Camões sejam emblemáticos de um modelo de literatura que tem no homem e seu tempo as medidas de sua grandeza.
A produção de Carlos Costa tem uma referência a vida enquanto expressão da experiência social do ser humano. A preocupação com a realidade e com a condição humana são marcas definidas de seu discurso literário, já evidentes nos primeiros livros de crônicas: “Um pouco acima do céu (da boca) (1980) e Crônicas Comprometidas com a tua vida (1990). (DES)Construção..., obra de estréia, publicada em 1978, é ilustrativa de suas preocupações sociais como se depreende da leitura do poema ”Minha Oração”: Creio em Deus e na Justiça/ Creio em Justiça e Liberdade/ Confio nos homens sem cores/ e nas armas em punho/ confio nos homens que lutam/ Confio na liberdade que virá!”.
(DES)Construção... é um livro que se define pela simplicidade no plano de elaboração poética e pelo conteúdo humano de seus textos. Por força de sua formação e de sua origem social, o escritor expressa de forma clara seu compromisso com os injustiçados – e com todos os que foram despojados de seus sonhos e do direito de ser e com a possibilidade de transformação da vida. O inconformismo de sua poesia , como está evidente no poema “Companheiro” Companheiro, vem/ Vem novamente encontrar os teus/ e ver os filetes de sangue dos que ficaram presos/Vem, vem mesmo que tragas o corpo cansado/ de ver tantas lutas, misérias, egoísmo, tanta mentira, tantos tiros.../Vem, vem mesmo que tuas mãos estejam fracas/ Aqui encontrarás mãos e peitos fortes para gritar/ falar...
O livro de Carlos Costa traz a marca de seu tempo. Como se trata de uma obra gestada nos anos 70 do século passado – período dos mais difíceis da História brasileira, dominado pela repressão política, privação de liberdade e, consequentemente, por uma atmosfera de sufocação -, é recorrente ao longo dos textos o tom de crítica social, de inquietação diante do clima político da época e de inconformismo com a opressão humana. Ao enfocar esses temas, o escritor utiliza-se de um discurso poético que se define pelo despojamento no plano da elaboração da linguagem. Intenta um diálogo sem qualquer tipo de mediação com os leitores. O poema “Início do fim” é uma evidência desse compromisso: José acordava triste/ na tristeza de mais um dia/ pensava nas crianças e na sua doce Ana Maria/ Sem nada ter na mesa/ para o trabalho José se ia/ no peito havia a certeza:/...Amanhã é outro dia!
Tenório Telles, escritor, professor, editor e crítico literário.
DEDICADO A
PAULO TORRES DA COSTA
JOSEFA BEZERRA DA COSTA, meus pais
Aos meus amigos e inimigos que acreditaram e confiaram em meu trabalho
HOMENAGEM ESPECIAL
Ao Movimento Livre de Arte, nas
Pessoas de seus participantes,
Por ter me dado a oportunidade de mostrar esses trabalhos.
PALAVRA DE FÉ E COMPROMISSO
Promover as atividades artísticas é uma forma de contribuir para a elevação espiritual da sociedade e para o florescimento de uma nova consciência – crítica e cidadã. Acreditamos no poder regenerador da arte e na força criadora dos artistas como elementos indispensáveis para o cultivo da esperança e da transformação positiva dos seres humanos e da vida. Tem razão o escritor Monteiro Lobato quando afirma “um país se faz com homens e livros”. O Projeto Valores da Terra, realizado sob a coordenação da Semed e da Fundação Villa-Lobos, é a confirmação do compromisso da Prefeitura de Manaus com a promoção das manifestações culturais e valorização dos artistas da terra.
A continuidade do Projeto Valores da Terra, nesta nova etapa valorizado o trabalho dos artistas que se dedicam às letras, é uma afirmação desse entendimento. O que pretendemos é estimular a capacidade criativa de nossos escritores, especialmente os mais jovens que não tinham a oportunidade de publicar suas obras, possibilitando a emergência de novos talentos. Nossa esperança é que essa experiência represente o marco inicial de carreiras literárias plenas de êxito e realizações.
São histórias que se inscrevem no livro da memória de nossa cidade. São 22 autores selecionados com critério e rigor, publicados pela qualidade e força de seus textos e pela capacidade de converter em palavras seus sentimentos e suas visões sobre o mundo. Trata-se de uma pequena biblioteca, composta de obras que cumprirão a missão de manter viva a tradição da palavra escrita e a história do livro em nosso país. São sementes que, por certo, germinarão e darão frutos. E que a providência nos inspire, proteja e abençoe com discernimento e bondade.
Alfredo Nascimento, prefeito de Manaus.
SUMÁRIO
Flor do laço
(DES)Construção...
Tecido transparente
Pássaro-homem
Dilema
Guerra
Canto de ninar
Último grito ou grito primeiro
Sonho mortífero
Pombo-correio
Verdades nuas
O certo do errado
Minha oração
José trabalhador
Peregrino
Quando...?
Negro réu
José do começo ao fim
...Tem meu canto
Ardnas Solrac
A restinga
Eu sigo em frente...
Graça e desgraça
Interprete...sim!
Loucura
Tributos do amor incerto
Vou falar
Um sonho...Stop
Sem pátria/sem bandeira
Você
(DES)Uniforme.
(HO)Mem
Companheiro
Escravos brasileiros
Irene. Meu silêncio
Morte
O início do fim.
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A FLOR DO LAÇO
O sangue escorre
Escorre o sangue
do açougueiro
fezes de Brahma
povo pobre
do sangue escorre
corre
sem rumo
sem destino
atino sem o rumo
perdido
açougueiro
o corpo corre
corre o corpo
morre o corpo
nos açougues
da vida
caídos
perdidos
esquecidos
mortos de fome.
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(DES)Construção...
Das raízes criei uma árvore
da árvore criei um pomar
os dois morreram juntos
com o homem a gargalhar
em sátiras tiradas gélidas
e sempre querendo espalhar
Árvore queimou-se no tempo,
No tempo morrendo o pomar!
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POEMA JUDEU
Cabala pronta
Cabalistas prontos
Alguém atiça
atira, tira
tiro
final!
Cabalista
Morreu
...mas as idéias continuam.
...O MITO ACABOU
De um grito abafado
um mito calado...
Liberdade sem razão.
um tolo morreu...
Pensei sem pensar
querendo não querer
gritei sem gritar
calei sem saber
Assim o mito acabou?
O que restou?
um salário baixo
uma palavra morta
um dizer medroso
uma vida torta...
Assim o mito acabou!
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TECIDO TRANSPARENTE
Cobri-me de cassa
tecido leve
leve a cassa
deixa livre
todos vêem
teu corpo.
Cassa livre
tecido transparente
vê-se tudo
nada se diz
nada se fala
tudo se cala
Cassa
nua
teu corpo vejo
desejo puro
de cassar
longe ou perto
no deserto
a cassa
continua
nua
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PÁSSARO-HOMEM
Cassandra
Cassa
anda
rápido
e mata...
Consome
corre
o homem
Mata
na mata
Cassandra
cassa
o homem
que fala
não cala
...cassado.
Cassandra
anda
a cassa no bico!
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DILEMA
Abro os braços
para dar um abraço
e vejo perdido entre o escuro
um muro sem traços,
sem passagens, sem retorno
e sem vida pura,,,
Indica uma única direção.
...os braços
sem ter um abraço
me perdi no escuro
me tranquei no muro,,,
tiraram a passagem de retorno
de uma vida pura...
jogaram-me na única direção
...sem s braços, cabeça,
no escuro...Me perdi no muro!
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GUERRA
Guerra
estúpido confronto
das idéias
dos pobres
onde não existem
amigo
imimigo
aliado.
Isso me faz sorrir
ao saber que
é em defesa (?)
das idéias...
Gurra:
homens pobres
pobres homens
que se matam (?)
para o bem
dos poderosos.
Guerra,
é um país
se matando
com armas estrangeiras(?).
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CANTO DE NINAR
Lancei uma pedra
no rio...
Águas formaram ondas
nas quais quais meus pensamentos
foram-se sem querer
meu rosto transformou-se
a pedra foi-se
o rio acalmou-se
meu coração sorriu!
Triste tormento
das onduladas
com a frieza
do meu gesto rude...
C Omo pude
mexer com a natureza?
A pedra foi-se
O rio voltou à calmaria
a minha alma sorriu.
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ÚLTIMO GRITO OU GRITO PRIMEIRO
Gosto de paz
gosto de liberdade
gosto de justiça
gosto que me tratem bem...
Precisamos de liberdade!
Precisas...
Preciso que me ajudem!
Nessitamos de leis que nos libertem
e nos façam livres...
Liberdade, quem és afinal?
Desconfio que esteja havendo fraude
entre alguns representantes de nós.
Desconfio da justiça dos homens
e das leis constuticionais.
Quem as respeita?
Por que zombas de quem te procura...?
Lutemos!
Liberdade, quem és afinal...?
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SONHO MORTÍFERO
A morte chega
em passos lentos
trazendo notícias
de mais um relento
a morte é negra
sem sentimento
mata...só mata
sem ter arrependimento,
a morte vem só para dar notícias
de alguém
já vai partir
entre perguntas
e suspiros extasiados
deixa uma vida a inexistir
a morte negra
chega sem avisar
todos perguntam:
- Morte? –
Quem será?
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PONBO CORREIO
Pombo dos correios
o correio animal
das estradas perdidas
esquecidas, varridas
mal o pombo pensa,
é cruel!
Os tempos do pombo, três
dos seis que marcaram o coração!
Pombo sem correias
correio animal...
Corre
logo vem avisar
quem não tem mais...
coragem,
lua,
fé cruel!
Quem espera na batalha
o consumo do véu...
céu estrelado e o pombo vai...
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VERDADES NUAS
Do além, surgiu um alguém,
sem ninguém, falou a quem
como ele
passa as mãos nos ombros
dos prisioneiros com o mesmo
carinho que passa
nos órgãos angelicais de sua mulher.
Como ele que cassa a caça
e sai cassando deixando morte
em sua cassada sádica!
Como ele que fala de tudo
e deixa o mundo pairar
no sofrimento da fome.
(Como um que fala do regime
de sua residência e põe-se para fora
gozando de uma vida vazia!)
Como ele que age certo dentro
do errado, falando e deixando
calado
um povo que o segue forçado
morrendo
desprezado!
Assim faz o meu ser
gozando do não ser
uma família canina...
Late o meu cão
...ele (meu cachorro de esrtimação)
balança o rabo, pedindo pão..
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O CERTO DO ERRADO
Vem um dia em que
o homem que diz tudo
cala-se para sempre,
vem a noite em que
o homem se cala
senta-se em pequenos quartos
- não consegue dormir –
vem um outro dia
e o homem que fala
não pode mais falar,
vem uma ordem
e o homem que fala verdade
não pode mais...
comer, beber, deitar,
dizer, pensar...
Chega a hora
De deixar as idéias
e partir para o infinito
mundo de solidão...
O certo do errado
e pensar e ficar calado!
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MINHA ORAÇÃO
Creio em Deus e na justiça
Creio na justiça e liberdade,
confio nos homens sem cores
e nas armas em punho,
confio nos homens que lutam!
Confio na liberdade que virá.
A dúvida consiste em que há
entre nós, muitos covardes
e sem voz...Causas de censura!
Pense nas armas. Meditemos
nos homens que lutam...
Gritemos em uma única voz:
Liberdade e justiça
para um povo sem amor...!
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JOSÉ TRABALHADOR
José cansado
Desce a serra
é hora
da guerra
José cansado
desce do céu
é hora de ver
Hoje é dia
de José
dia de fé
mais uma guerra
desce a serra
desce o céu
Dia de farra
Mais uma guerra
Dia de morte
Mais uma festa
Dia de luta
Mais uma morte...
Dia
José,
Triste...
Teu corpo cansado
José
No canto jogado
Marca a luta
por mais uma sorte
por mais uma guerra
por mais uma serra
por mais uma morte
Dia
José
Sem igual!
Cansado,
José
Perdido...
O corpo esquecido
de José está enterrado
em valas de luta
JOSÉ TRABALHADOR!
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PEREGRINO
Em um deserto
com rumo incerto
sigo certo
sigo só.
Somente o vento,
o relógio do tempo,
a areia do caos
acompanham-me o caminhar...
é a certeza de ir
com a vontade de querer ficar.
é a lembrança do partir
com a vontade do caminhar...
No deserto
sem rumo certo
sigo só...
Somente só...!
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QUANDO...?
Quando os momentos
transformarem-se em eternidade,
medes o teu sofrimento
e transforma-o em felicidade.
Se fizeres,
saberás que o mundo
é uma eterna flor
e tudo é sempre amor...
Quando os momentos
transformarem-se em angústias,
delas tirarás uma única lembrança:
...perdestes um amigo.
Se os teus olhos
voltarem-se para o espalho
dele brotarão duas lágrimas
que simbolizarão teus momentos...
Conserva um amigo na eternidade...
Viva: só feliciade!
Assim seja!
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NEGRO RÉU
Negro sujo
brasileiro calado
réu
dos governantes
fantasmas...
Postos e impostos
Dos “sudents”calados...
Prisões lotadas
verdade pintada
em telas negras
em covas baixas
Tudo sujo
povo calado...
Sociedade panelada
Cobrando mais alto...
Voz que não sai além dum zumbido
Até onde isso vai?
Opressão racional ou animal!
Negro sujo
Mais limpo dos racionais
Animal mais puro!
Corta a tua bandeira ao meio
tira dela as cores honradas
tira do teu corpo a farda
que enoja teus dezoito anos
da tua vida!
Negro branco, preto sujo
teus dentes servirão
de algema, tua boda de arma,
teus braços de munição.
Luta, negro, luta
Preto da vida sem razão!
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JOSÉ DO COMEÇO AO FIM
José
são sete horas
é hora
vai embora
José
sem café
sem dinheiro
José
das onze horas
cara fechada
nada!
José
Sem fé!
José
da meia-noite
da dormida
da comida
da borracha
José
são sete horas
já é hora da caminhada
...obrigado!
...de nada!
Madrugada,
procurada, cansada
a cama! Casa calada
lâmpada apagada
José,
Do tudo ou nada...
Morreu José,
Mudo sem nada,
cansado da guerra
da vida
do tudo-nada
José
Das horas e da madrugada
Morreu José...
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...TEM MEU CANTO
Não preciso que alguém me conte!
sei que depois da ponte
tem a fonte, tem a sede e tem a rede
que embala os que diferem;
depois do morro
tem o monte, tem a tumba, tem a cruz’
dos que morreram, dos que disseram...
Depois da verdade
tem a vaidade, tem mentiras
tem os tiras que tiram e atiram
para matar...
Depois do homem
tem a fome, tem quem come
sem saber quem trabalhou
quem suou.
Depois do dia,
tem outro dia
sem alegria;
tem vaidade dos patrões;
tem peões
que depois de tudo, ficam mudos,
surdos, cegos...!
Depois da ponte
tem a verdade com liberdade
com amor
Tem o muro, tem o escuro
do meu canto, meu pranto
que rola morto,
absorto...
Depois da fonte, sem o monte,
Sem a ponte, sem o escuro,
Sem o muro...tem meus passos
rumo à tumba!
Sem a fonte...!
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ARDNAS SOLRAC
Agora que paira o silêncio,
vejo-me entre as nuvens,
um silêncio maior urge
e cai como folha seca – indefesa –
ao chão dos meus braços diamantados
para cobrir o brilho da primavera
anunciando com o fulgor dos teus olhos
o envolvimento de uma longa espera.
O silêncio cai sobre os umbrais
da casa do meu coração
o amor me leva aos intermináveis
momentos de desconsolação
e com o quente envolvimento
de um som tênue, suave e frio,
como o amor que você ostenta no peto
faz cair o meu desamor.
Nuvens, só nuvens pretas e sujas
me envolvem num dilema alegre e sem graça
- que disgra, disgraça, deraça! –
e com uma triste fossa
de você meu amor.
Queria me perder nos seus beijos,
amar com todo o desejo
e morrer no gozo eterno,
farei de mim um inferno
e queimarei a chama do meu desamor...
Perdão (perdoa-me)
Que tolo eu sou!
No silêncio que agora urge
anuncia que eu já vou...
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A RESTINGA
Sigo
por entre o mato baixo
restinga
água até os joelhos
poraquês existem.
Chego lá...
Paneiro pendente nas costas,
atrás o amigo do silêncio segue,
late com orgulho do dono inseparável.
Único senhor!
Uma lamparina clareia:
O cansaço é tamanho!
ao lado o cão amigo
peixe não existe.
Arregaçada até os joelhos sangrentos
a calça rasgada
está molhada.
De um ponto qualquer,
um peixe vem por entre a restinga,
lanterna, araponga...
Lanterna à mão...
Cai o corpo cansado
mas sobrevive o coração
A última lamparina morre
o coração bate mais forte
a restinga existe
mas o homem morre...!
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EU SIGO EM FRENTE...
Entre as nuvens
Caminho,,,
sozinho.
plumas me arrastam
pelo destino alvejante
sozinho...
sigo adiante.
Cisnes brancos me olham.
- existe cisne e cor? –
Com espanto
E que espanto!
sozinho sigo adiante
à procura
de um cano
canto de vida
canto de som,
som
dos cisnes nos lagos
das maquinarias modernas.
Entre as nuvens
eu caminho
cego...sozinho.
Sem amor e sem carinho,
desprezado
modernismo...?
Pelo tempo
Maquinista...?
Calado
Sozinho
Em sigo em frente
(Poema premiado)
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GRAÇA E DESGRAÇA
O meu amor
se perdeu
entre a escuridão
da fumaça...
Eu acho graça
da desgraça
porque no fundo
não tem graça.
A fumaça é a graça
da disgra
...?
Que graça?
Meu amor
você é a graça!
sem nenhuma graça...
da desgraça
...?
Fumaça & Amor
Desgraça & Desamor
a graça
eu já sou...!
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INTERPRETE...SIM!
Se
Rosa
fosse espinho
e
espinho
fosse flor,
GUERRA
seria alegria
MORTE
seria amor!
LOUCURA
Eu
Amo
Tu
Amas
Ele
Ama
Nós
Amamos
Vós
Amais
Eles
Amam
...?
Por que conjugar?
Por que julgar?
Se eu
não sei
AMAR!
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TRIBUTO DE UM AMOR INCERTO
(para Eleomar Benacon)
Os meus olhos perderam-se
a olhar o infinito da rua,
a observar os transeuntes...
Pessoas
passavam
Carros
Passavam...corriam
Os meus lábios
Riam
Mas os meus olhom
Choravam,
A espera era triste,
demorada,
massacrante.
Mas eu esperava,
mais triste e não com a ânsia de antes.
Chorei...
Por alguns instantes
Meu amor
Chorei...
Mas como o choro de antes,
A rua teve fim
- tudo acaba assim –
As pessoas me olhavam
As lágrimas pararam
Os carros já não corriam
Meu coração...
- parou –
Fim...
Tudo acabou,
Mil pessoas passavam
Só meu amor não passou...!
____________________
VOU FALAR
Hoje resolvi falar
sem perguntas
ou respostas...
Um cego se arrasta
um mudo tenta falar.
Andando,
tropecei nas respostas
e perguntas
do cego e do mudo
Um sabia que eu não via,
O outro sabia que eu não sabia.
Caí como o cego
tentei falar como o mudo.
Emudeci também.
Hoje resolvi falar
que as perguntas não têm respostas
e que as respostas sem perguntas
intalam-se sem poder sair.
Resolvi dizer que tudo
É fantasia! É fantasmas!
E tudo, mudo, cego
é o nosso vive diário.
Perdão, mas resolvi falar,
Perdão, resolvi calar.
Perdão,fiquei cego e surdo
não posso mais ver ou falar,
perdão...
_____________________
UM SONHO ...STOP!
Um dia sonhei...
o que não tinha sonhado.
Não!
Sonhei sim!
Sonhei(...)
Estava correndo,
Morrendo...
O “eu” se perdendo.
vida
Correndo, o mundo seguindo
e eu morrendo.
Tudo sorrindo
eu seguindo.
Chorei sorrindo...
estava morrendo.
DORMINDO.
Tentei acordar
para tentar
LEVANTAR...
Sonhei com a
MORTE.
Sorte,
Vida e morte,
O progresso
FORTE
As máquinas
MORTE.
Sorte, sonhei
com a morte!
Tentei acordar
Para levantar, lembrar,
DORMINDO
poderia estar.
LEVANTAR...? chorei.
Não cosegui mais
ACORDAR.
Morri para nunca mais
VOLTAR
E quando eu acordar?
o que vou encontrar...?
Se não consegui AMAR
não quero mais acordar
pois meu sonho foi morrer
para nunca mais voltar...
_______________________
SEM PÁTRIA/SEM BANDEIRA
Já está ferido o soldado sem farda,
atingido por uma bala de fuzil
Do corpo sai o sangue sem direito a parar.
E só um cadáver a mais a contar!
Sou de uma terra sem bandeira
de herói sem sangue e sem rosto.
Parem o canhão!
Lembrem-se: foi um chamado que teve que atender!
Mas, por quê?
Soldado não tem mãe...
Ele não volta mai.
Cadê mamãe?
Soldado foi para a zona...
Guerra de um perigo maior,
Não viu quartéis com gabinetes
(Vê quem te matou?)
Mas, por quê?
um dia nos veremos
no céu ou no inferno,
Viveremos
Sem pátria
E sem bandeira,
Apenas com liberdade!
____________________
VOCÊ
Afinal, quem é você?
Simplesmente sei que não sou eu,
Eu sei,
Talvez sejamos eu e você, juntos.
Não consigo me separar e nem me esquecer.
Minas lembranças encontram com a sua.
Juntos, caminhamos de mãos dadas
Sei que você me penetra,
Me pensa, me consome, me faz bem,
Mas quem é você, afinal, Liberdade,
Se só escuto gritarem o seu nome
E você nunca chega!
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(DES) uniforme
A roupa não faz o homem.
O nu também é belo!
A farda não faz o herói.
Nunca a usei para ter que aguentar gritos
de ordem unida todos os dias!
O posto não é eterno.
No céu ou no inverno não existem hierarquias!
Não adulo.
Eles não merecem!
Não quero favores
(quem não deve, não teme!)
Não entro em todos os quartéis
porque a vida não feita só
de verde, amarelo, azul e branco!
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(HO)MEM
O carro passa pelo homem
que passa pelo carro
que passa pela estrada
que passa pelo homem.
O homem que passa pelo carro
que passa pele homem,
que passa pela estrada
que passa o homem
que passa a vida
que passa o carro.
O carro passa pela terra
que passa pelo homem
que passa pelo mundo
que passará pelo homem...
IRENE, MEU SILÊNCIO
Irene,
pra ninguém eu estou.
Eu já vou.
Se o telefone tocar
se alguém perguntar
diz que saí por aí
pra ninguém eu estou.
diz que eu estou a vagar
diz que eu me perdi
diz qualquer coisa...
pra ninguém eu estou.
Se uma lágrima rolar,
se uma música suave tocar
se um outro amor chegar
diz, diz que não estou.
não estou aqui.
quero ficar só.
Nem mamãe, vou atender,
nem você, Irene, vou atender.
O silêncio, esse é o meu amor.
Se ele chegar, diz, diz Irene,
diz que eu estou,
se o silêncio chegar!
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MIRAGEM
Não é uma miragem que eu vejo
Não é um sonho que eu sonho,
Não é uma vida que eu vivo,
Não é um amor que eu amo,
É tudo uma miragem da miragem
Que olha para dentro de mim
E cobre-me em realidade,
Vejo, sonho, vivo e amo.
Isso eu sei: não é uma miragem de ti!
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MORTE
De ti em mim, permanecerá a morte,
deitada dentro de meu corpo
ela permanecerá viva,
silenciosa e bela.
A tua morte caminhará
pelo meu corpo e me fará lembrar
que um dia vivemos.
Hoje, prazerosamente, desejo a tua morte
Lembrança ruim de um tempo passado:
Repressão!
Só assim serei capaz de amar de novo!
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O INÍCIO DO FIM
José acordava triste
a tristeza de mais um dia,
pensava nas crianças e na sua doce Ana Maria.
Sem nada ter na mesa
para o trabalho José se ia
no peito havia a certeza:
- Amanhã é outro dia!
O trabalho lá na fábrica,
que fabrica o fim do dia
terminava sempre igual e para casa José se ia
pensava nas crianças e na sua doce Ana Maria.
No peito havia a certeza:
- Amanhã é outro dia!
Entre a multidão e a fumaça
o pensamento se perdia.
Passavam os dias e as horas e a certeza desvanecia
- Será, amanhã é um novo dia?
A lua subia na noite e a noite se perdia no dia
e no peito de José
a tristeza de mais um dia.
- Será, amanhã é um novo dia?
Lá na fábrica uma greve e José nela se perdia...
Um tiro no meio do povo foi acertar no que mais queria
José caiu sem vida e sem esperança em um novo dia...
Não pensava mais nas crianças e nem na sua doce Ana Maria!
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COMENTÁRIO AO FINAL DA SEGUNDA EDIÇÃO
A produção literária de CARLOS COSTA tem como referência a vida enquanto expresssão da experiência social do ser humano. A com a realidade e com a condição humanas são marcas definidoras de seu discurso literário, já evidentes nos primeiros livros de crônicas, UM POUCO ACIMA DO CÉU (DA BOCA) de 1980 e CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA (1990). (DES)Construção..., obra de estréia do autor, publicada em 1978, é ilustrativa de suas preocupações sociais, como se depreende da leitura do poema MINHA ORAÇÃO.