PRIMEIRO AMOR DE UM PEÃO
Inté vô contá
Um causo de amô
Um tiquim diferente
Mais num é causo pra dotô!
Um dia fui trabaiá
Numa roça de mandioca
Junto com uma leva de peão.
O patrão tava com pressa
De coiê a prantação!
A casa da fazenda
Ficava no arto da colina
A famia era grande
E da roça ouvia a folia
Que os fio do patrão fazia!
Naquela manhã de sor ardido
Apareceu uma pequena cobra
E deu bote num companhero
Que trabaiava sem bota.
E nois tudo no desespero
Sem sabê o que fazê
Corria pra todo lado
Sem o companhero socorrê.
Entonce tive a idéia
E corri pra casa do patrão
Cheguei lá em cima sem ar
Na maió trapaiação!
Eu gritava por socorro
Pramode a pressa era muita
Todo mundo em disparada
Foi pra roça na corrida.
Foi aí que vi a moça
De boca aberta parada na porta
Ela era tão branquinha
Iguar as raiz de mandioca!
Que moça mais facera!
Que encanto de muiê!
Eu fiquei com as perna bamba
E de lá num arredei os pé.
Coração saindo pela boca
Tamanha emoção que fiquei
A moça corou de vergonha
Proque eu quase desmaiei.
E ela me deu uma caneca
Com água bem fresquinha
Disse com voiz de anjo
Queu precisava tomá a linha.
Fiquei com uma raiva danada
De ter nascido peão
Era pobre, analfabeto
Aquele anjo num era preu não!
Eu nem alembrava mais
Do coitado do companhero
So escuitava meu coração
Disparado como uma boiada
Que ninguém consegue pará
Agora eu entendia
O que era se apaixoná!
E durante toda a safra
Que nois trabalhemo lá
Eu parava e olhava a colina
Como se fosse o paraíso
Pois lá estava o amor
Que nem tive e já tinha perdido!
O serviço acabou
Hora de arrumá as troxa
Procurá outro trabaio
Pois sem ele eu num dô conta!
Santo André, 28.01.08 – 3h40m