Catadeiras de Lenha

Nos mais antigos tempos do interior

Bem distante dos brilhos da cidade

No coração dos bairros mais humildes

Havia um trabalho quase esquecido

Cultivado pelas catadeiras de lenha

Nos campos rejeitados das fazendas.

Em pequenos grupos elas saiam cedo

Passavam lentas pela estrada boiadeira

Alegres voltavam em fila ao cair da tarde

Carregando sobre a cabeça erguida

Feixes de troncos secos retorcidos

Para alimentar o fogão de cada dia.

Algumas delas eram netas de escravo

Trazendo fibra e heranças ancestrais

Cantarolando toadas um pouco tristes

Para amenizar o dia e agradecer a vida

Nos arrabaldes de minha terra natal

Eu testemunhei essa memória social.

Depois de décadas recolho esses traços

Culturais mineiros, quase todos apagados

Que deixaram influências em muita gente

Valores, ideias, crenças e até preconceitos

Que hoje devem ser revistos e separados

Entre riquezas e equívocos do passado.