Arapuca
Me alembro muito bem
Dos meu tempo de moleque:
Saía de funda e arapuca tamém
Pra mode caçá
Lá no alto da roça,
E bem pertinho daquela poça,
Lá armá.
Voltava pra casa contente,
Pegava dois passarinho,
Às vez três,
E punhava na gaiola
Pra mode vê cantá.
E eu ficava ali
A vê meu sabiá
Cantando na minha frente.
Tal dia então,
Eu fui drumi bem cedinho
Pr’eu i caçá de manhãzinha
E sonhê,
Sonhê e tive medo:
Eu era um desses passarinho
Que saiu do ninho a pouquinho
Voava pelo meio da mata,
Quando oiê,
Debai daquela enorme arapuca comida farta
E eu, com uma fome danada,
Entrei na arapuca armada
E comi como ninguém come.
Té que caiu por riba de mim.
Daí apareceu um moleque
Me pegou e me punhou numa gaiola.
Tentava então falá pro rapaz malvado:
— Vosmecê me prendeu! Pro quê? Pro quê?
Eu, que cantava pra alegrá,
Agora canto, no fundo duma gaiola,
Aquelas música que nós aprende na igreja
Pra mode Deus me libretá.