Arapuca

Me alembro muito bem

Dos meu tempo de moleque:

Saía de funda e arapuca tamém

Pra mode caçá

Lá no alto da roça,

E bem pertinho daquela poça,

Lá armá.

Voltava pra casa contente,

Pegava dois passarinho,

Às vez três,

E punhava na gaiola

Pra mode vê cantá.

E eu ficava ali

A vê meu sabiá

Cantando na minha frente.

Tal dia então,

Eu fui drumi bem cedinho

Pr’eu i caçá de manhãzinha

E sonhê,

Sonhê e tive medo:

Eu era um desses passarinho

Que saiu do ninho a pouquinho

Voava pelo meio da mata,

Quando oiê,

Debai daquela enorme arapuca comida farta

E eu, com uma fome danada,

Entrei na arapuca armada

E comi como ninguém come.

Té que caiu por riba de mim.

Daí apareceu um moleque

Me pegou e me punhou numa gaiola.

Tentava então falá pro rapaz malvado:

— Vosmecê me prendeu! Pro quê? Pro quê?

Eu, que cantava pra alegrá,

Agora canto, no fundo duma gaiola,

Aquelas música que nós aprende na igreja

Pra mode Deus me libretá.

Heron Queiroz
Enviado por Heron Queiroz em 04/03/2024
Código do texto: T8012411
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