NATAL SERTANEJO
(Nas palavras do matuto Zé Fulô)
Nesse tempo de presentes
Eu peço a papai Noel
Pru mode ajudá o sertão
Cum um presente do céu
Trazendo a chuva pra nois
Vai ser o mió presente
Os outros adjutórios
Pode deixar cum a gente
Tendo água pra beber
E pra semente germinar
Nois temo força no braço
Pru mode puder plantar
Aqui temo muita fé
É prumessa todo ano
E quando chega o natá
Nenhuma buneca de pano
O sinhô cum sua carruage
Num avoa pelo sertão
Se o probrema é o transporte
Nois temo a solução
Vasmincê não se aprecupe
Ta certo que o meio é lento
Mais eu num vejo disfeita
Em papai Noel de jumento
É bom que o sinhô vai perceber
Andando divagarinho
Quanto sofre o sertanejo
Pra viver no seu cantinho
Nós num pidimo muito,
Um tiquim tem sirvintia
Umas coisinha pros minino
Saúde para a famia
Uma alparcata nova
Um paninho de riscado
Uma chuvinha graúda
Pra alegrar o roçado
Quando o sinhô vier
Lhe peço pru caridade
Num discarregue seu trenó
Todim lá pela cidade
Nós tumbém aqui da roça
Precisamo ser oiado
E o senhô que é véio bom
Vai atender o chamado
E quando for mais na frente
Lá no tempo da fartura
Venha cumê mio verde
Feijão, fava e rapadura
Lá de cima o sinhô vai ver
As casinha cuma é
São cubertinha de paia
Tubém num tem chaminé
Ta certo que não são iguá
As casa de gente rica
Cuma as qui vasmincê anda
Lá pras banda da Suíça
É casinha de matuto
De gente de pouca letra
Mas qui sabe que amor
Num se iscreve cum caneta
Purisso papai Noel
Lhe enviu meu desejo
Que no natá desse ano
Seja um papai sertanejo.