Tempo bom
A vida no interior
Nunca foi somente flor
Aquele tempo passado
Foi um tempo aperriado
Tempo de dificuldade
Mesmo assim, eu tenho saudade
Do meu tempo de criança
Tempo bom de esperança
De não se preocupar atoa
Época de lembrança boa
De pescaria no rio
Do beiço tremer de frio
Eu armava arapuca
Comia farinha com açúcar
Cozinhava no roçado
Comia milho assado
Comia pirão de chimbuda
Ouvia estória cabeluda
Que os mais velhos contavam
Os nossos se arregalavam
Pelo teor da estória
Hoje, guardo na memória
Aquele tempo bonito
De sorriso infinito
Eu ia buscar lenha na mata
Pois, tinha medo da chibata
Que mamãe 'só ' prometia
Tenho saudade de tia
Saudade das farinhadas
De comer batata assada
Na cinza lá do fogão
Saudade do são João
Saudade do Cosme e Damião
Que dona Iracilda fazia
Ô tempo bom de alegria
Guardado em meu coração
Saudade da discoteca
E do jogo de peteca
Que a minha mãe inventava
E que a agente brincava
Saudade da moradia
Lá onde vovó vivia
Saudade das brincadeiras
Era quase a noite inteira
No terreiro lá de casa
A meninada se juntava
A gente tudo inventava
O coração se alegrava
Ô tempo bom da mulesta
Aquilo tudo era festa
Aquilo sim, era riqueza
Bem ali, a natureza
Nos servia de encanto
E lá, naquele recanto
Não tinha tristeza ou dor
Qualquer dificuldade, se curava com amor..