Conversa de Violeiro

Canto de viola, prenda de rodinha

Curupira chora na mata sozinho

Se achou que ele ia, disfarçado vinha,

Vinha com a flauta tocando um chorinho

Lá onde a gente mora tem uma corujinha

Ela nunca pisca quando está no ninho

Quando eu me descuido ouço um assovio

É o seu chirriar chamando a cotovia

Dizem que são comadres, quem será madrinha?

Que bate no poleiro causando arrepio,

Carijó galinho fica todo arisco, cisca no poleiro

Diz ser o dono do edifício, prosa com as galinhas

Que vale o sacrifício dessa ladainha...

Já é madrugada distante um canto fagueiro

Enquanto eles cantam por paixão

Eu canto por dinheiro, vira e mexe

Esse galinho encanta o seresteiro.

Moda de viola solto o meu refrão,

Carro de boiadeiro vem na contramão,

Rimo carretel de linha com canja de galinha.

O meu canto é um gatilho que mirou teu coração,

Quem tá piando no terreiro é o matraquinha

O Pinto mais amarelinho que o sol desse verão

Chuvisco no telhado saudade da moreninha

Que tocou em sustenido em dó o meu coração

Quanto mais eu dedilho o meu velho violão

Maio o teu o brilho estrela minha, aguça minha paixão.

Roda de ciranda, cantiga da noitinha

A fogueira já se apagou só restou esse refrão:

Tua trança de mariquinha comprida feito minha sina

Não é maior que o meu desejo,

Nem o calor da fogueira de São João

É mais quente que o meu beijo.

Aí ela canta com o maior desdém...

E diz, conversa de violeiro! Amanhã parte no trem.

Se volta eu não sei não...

Eu é quem não vou cair no canto do seresteiro.

Na última quadrilha eu sobrei feito balão,

Levada pelo fole de um tal Sebastião,

Até hoje não sei o rumo desse sanfoneiro.

Ademar Siqueira
Enviado por Ademar Siqueira em 09/07/2023
Código do texto: T7833056
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