Balaio
Do livro:
Balaio Poético – Goiás em versos
Marta Souza
Balaio
Mãos cansadas da lida,
Não cansadas da vida.
Mãos que veem como olhos,
Ao longe, a matéria-prima
Ideal para fazer os balaios.
Lá estão elas!
Esbeltas varas de bambu-taquara,
Bailando sob as asas do vento
Exibindo-se ao nato artesão.
Quanta honra ser trabalhada
Por aquelas prendadas mãos!
Logo, à sombra da mangueira,
O trançado se iniciaria.
Como assistente? Quito, o papagaio
Cantando e fazendo zoeira.
Corta daqui, puxa dali, desfia de lá
Ora ou outra, ao canto do sabiá.
Enquanto trabalha com as mãos,
Compõe com o coração:
Balaio meu balaio!
Serás suporte para conduzir
Tantas coisas, tantos sonhos...
Quem sabe, milho seco para as galinhas
Ou milho verde para fazer pamonha.
Amendoim, algodão, frutos do cerrado,
Verduras, legumes, feno, feijão...
Quem sabe roupas do varal,
Lenços, lençóis...
Não te vejo jogado num canto qualquer
De um velho paiol abandonado.12 Marta Souza
Hei vê-lo cheio de girassóis, margaridas,
Flores do campo, pétalas de ipês
Flores do cerrado, sempre-vivas...
Até sinto o perfume das flores em de ti!
Sabes, meu querido balaio,
Recordo-me que tens muitas histórias:
Foste inspiração para o bailar das prendas;
Lazer para os gatos sapecas entre linhas e lãs;
Peça de decoração em festas típicas;
Descanso para as coloridas linhas da tecelã.
Ficou até famoso num programa de televisão!
Ufa! Pronto, que lindo estás!
Vai cumprir sua missão, sentirei saudades,
Não te esquecerei jamais,
Já não posso chamar-te “meu balaio”
Pois és balaio do meu Goiás!