DONATO

Tenho eu, cá comigo,

que meu cavalo é gente;

basta uma espiga de milho,

já vem metendo os dentes,

parece que tá sorrindo,

falando que tá contente...

Se tô meio cambaio, sofrido,

ele se achega, na amizade;

feito terapeuta de sítio,

tem energia à vontade,

parece pilha de lítio,

além de sua coragem...

Certa feita, saímos os dois

pra fazer compras na cidade;

no caminho tinha um boi

co'aquela cara de maldade,

já veio quente, nem disse oi,

foi correria à vontade...

Meu cavalo pediu pr'eu descer,

voltou pra tirar satisfação;

chamou o boi - ei, você!,

tu vai levar "um sabão",

deu-lhe um coice, de doer,

oi boi ficou lá no chão...

Cheguemo, amarrei no poste,

pedi farinha, tinha de sobra,

não era nosso dia de sorte;

no pé do cavalo veio uma cobra

pra morder o pé ou dar um chupão,

ele deu um pisão, ela tá lá morta...

Montei e nóis fomos embora,

melhor ficar lá no sítio, sossegado;

me falaro pra comprar um drone, agora,

o que precisar vai ser entregado,

daí umas horas, sem demora,

tudo certinho, embalado...

Mas o que mais gosto por aqui

é subir no lombo do meu cavalo,

sair pelos campos, ver por aí

a cachoeira que cai lá do alto,

dizem que aqui tem até Saci,

Mula Sem Cabeça no mato,

por isso vou ficando por aqui,

eu e meu cavalo, o Donato...