PRA NÃO DEIXAR DE SER CAIPIRA
Pra não deixar de ser caipira
guarde assunto pra muita prosa.
Pode até contar mentira
ou citar Guimarães Rosa.
Tenha em casa um chapéu
de palha, pano ou Panamá,
ele vai te ligar com o céu
quando cantar um sabiá.
Não tenha medo de poeira.
Se chover, pise no barro
que é pra alma ficar inteira
igual flor que não é de jarro
e nunca se aparta da terra.
Daquela terra que não tem cerca,
é sem dono em vale ou serra.
Deixe que aí a alma se perca.
Aonde for, leve um ribeirão
desses que refrescam a gente
com água pura da emoção.
Caudalosa, vem de enchente,
sai fora do leito, escorre na cara.
Brota da mina de onde o olhar mira
com modo que tudo arrepara,
pra não deixar de ser caipira.