O Meu mundo de Jeca

O Meu mundo de Jeca

(Alex Louzada)

Nasci no Rio

Criei-me no seco

Sequei a goela

Caí de um precipício

Tornei-me Jeca

Entrei num buraco

Agora sou ocaso

Da própria panela

Resisti no alto

Também voei baixo

Tatu-Urubu

Um Jeca-Tatu

Já fui pra sarjeta

Um Tibicuera

No Carandiru

Nos mangues da vida

Divino otário

Cara de palhaço

Da mesma existência

Vi toda avenida

Coberta de flores

Nas quartas de cinzas

De meus dissabores

Nasci na mentira

Na bala de horrores

Fagulhas e sangue

Nas rimas de antes

Já fui luz e palha

De terno e gravata

Caí da estante

Hoje não me iludo

Nem faço pirraça

Sou Jeca-Tatu

Cachorro-Urubu

Não tenho esperança

Sou carta marcada

Livro velho na estante

O que tenho agora

São minhas velhas botas

E roupas rasgadas

Feito um cão vira-lata

Abano meu rabo

Mijo em seus sapatos

E lambo sua cara

Nasci lá no Rio

De águas barrentas

Pra “muié pegar”

Escrevia poemas

Só findei no fundo

Da bela pequena

E filmei o meu mundo

O meu mundo de Jeca.