SERTANEJO

Sou um pobre peregrino

Que veio lá do sertão

De onde deixei Maria,

José e meu irmão...

Terra de gente sofrida

Que anda de pés no chão

Tentando tirar da terra

A sua alimentação...

O senhor não sabe seu moço,

Como sofre o meu sertão

Que dói aqui no meu peito

Ver essa gente na mão...

Moço, eu trabalhei duro

Por esse sertão sofrido

Mas a seca foi demais

Não vi meu feijão florido.

Saia na madrugada

E corria pelo estradão

O sol queimando o meu rosto

Meus pés ardendo no chão...

Abri cavas, plantei milho,

Plantei soja e algodão

Na esperança que a chuva

Molhasse minha plantação...

A chuva lá não caiu

Perdi minha plantação

Perdi meu boi, meu jumento,

Toda a minha criação...

O milho já não dá mais

Não dá o trigo, nem feijão

Por isso morreu de fome

Maria, José e meu irmão...

E coitado do meu jegue

Não se aguentava mais de pé

De tanto que passou fome

Ficou jogado a "migue"...

O senhor devia ver seu moço,

Como estava a minha vaquinha,

Coitadinha, tava no coro e no osso

Não se agüentava mais de é a coitadinha.

O governo nada faz

Pra melhorar a situação

Só olha praquelas bandas

Em época de eleição...

Não quer saber como sofre

O coitado do meu irmão

Não quer saber do nordeste

Não olha pro meu sertão...

Resolvi ser andarilho

E abandonei meu sertão

Por isso corro essas terras

Mostrando as chagas da mão.