LAGOA SECA
A poeira tapava
Minha difícil despedida
Sob o sol caído
Naquela lagoa seca.
Na longínqua cerca
O arame farpado e o quiabento
No chão árido
As pegadas do sofrimento
Nas pastagens, gados em sequela
Buscando o escasso alimento.
Na umburana a cigarra
Bem afinada se desmantela
Dói no peito o marasmo
Do Sertão simbolizado pelo calo
E o ruído da dor
Da sede e da fome que martela.
As mãos calejadas
Calam-se na enxada
A alma pragueja a seca perene
O braço quebra o torrão
A boca pede por pão
A solidão exalta com força
O sofrê e o anum não cantam mais.
Ao longe moças magrelas
Puras feito flor
Perdem-se na cuspinha de dizeres
As promessas brotam na goela
Em cada e cada pensamento
E no rosto feio o olhar doce
Implorando amor.