NO ENTREMEIO
Aurora do dia veio
Sumiu da noite o manto
A claridade em um veio
De luz traz o espanto
O sertão de vida tá cheio
Motivo pra fazer um canto
Pra entoar sem receio
Que leve embora o pranto.
O poeta vê no entremeio
O que não sabia o quanto
Tinha de belo porque alheio
Ele se fazia enquanto
Tudo mostrava que o feio
É belo, só tá com quebranto
E a beleza é um esteio
Que faz da vida acalanto.
No peito brota o anseio
Ao ver o belo recanto
A poesia acha um meio
Da boca foge pelo canto
Ela se mostra sem rodeio
Sabe seu ofício santo
Vira um sublime gorjeio
Exalta do sertão o encanto.
Pensamento, cavalo sem freio,
A galope dá um adianto
A viola fornece o ponteio
A emoção de si dá um tanto
A poesia vem sem bloqueio
E o poeta ali no seu canto
Pra natureza faz galanteio.