A enxada e o carrasco
Na grota escondida
De fenda profunda
Peleja uma enxada
Com pedra de funda
Tentando tornar
A terra fecunda.
No escalpo da serra
Corrói uma enxada
Na áspera rocha
Seu dono se enfada
De tanto batê-la
Reduz-se em nada
Mas eis que ele trouxe
Marreta e trilho
E bate na lâmina
Que planta o milho
Pra ter o que comer
Esposa e filho
O seu pobre dono
Cansado do posto
Esfrega o suor
Que cai de seu rosto
Mas nunca lamenta
Faz tudo com gosto
O sol que caminha
Ao meio do céu
Parece fazer
Do pobre um réu
E faz reduzir
Um manto num véu
A enxada persiste
Em sua agonia
Trabalha bem cedo
Escuro é o dia
Das mãos e dos olhos
É apoio e guia.