POESIA MATUTA

Eu cunhêço os lero-lero

Das preméssa dos doutô,

Se fingino de hômi séro,

De honra, de paz, de amô;

Qui se nói num fica isperto

É bem capaz, eu tô certo,

De butá ele num andô!...

Eles cômi in nosso prato

E bebe no nosso copo,

Faz questão de no retrato

Nói aparicê na foto!

Fingino qui nos qué bem,

Qui amô e carím nos tem,

Mas isso tudo é um truque;

Eles quéri é nosso voto

e tombém a nossa foto

Prá butá no Fercibuque!

Andam a pé e de jumento

Prus inleitô inganá,

Mas dispôis da inleição

de sumisso toma um chá!

Vão simbora de avião

Pra capitá federá.

E a gente pra vê seu rosto

Só se for num calendáro,

Sirrino de nói cum gosto,

Se não na televisão

Votando por mais imposto

In troca do mensalão!

Ah, se eles fôsse sincéro!

Se suas preméssa cumprisse.

Se precurasse a verdade,

Se eles nunca mintisse.

Tarvez o sertão mudasse,

Tarvez o sertão florisse,

Tarvez o sertão ficasse

Diferente deste triste!...

Se os doutô deputado

Aqui do sertão do Norte

Cumprisse com suas preméssa,

Não nos fartava transporte,

Não nos fartava hospitá,

Sussêgo in nossa cachola,

Não nos fartava iscola

Prus nossos filho istudá!...

Não nos fartava a casinha

Pra nossa famía morá,

Não nos fartava a simente

Pra nesse solo plantá,

Nem nos fartava a terrinha

Pra todos nói trabaiá.

Nóis ia tudo crescê,

Intônce o Brasil ia vê

Nosso sertão prosperá!...