Um dia na vida de João Impigem de Oliveira Pano Branco

Belém, 20 de setembro de 2014.

Mulher me trocou por outro alguém

Na rua minha mala jogou

Perdi do meu bolso uma nota de cem

Japiim na moleira cagou

Tropecei bem na unha encravada

Rasgou a rede puída

Toalha caiu dentro da privada

Estourou a minha nascida

Rasa de açaí vi tombar no rio

Na perna fisgou uma arraia

Hoje me estranhou o cão que crio

Cordão me roubaram na praia

Queimou o meu rádio novinho

Um raio veio no telhado

Comboia topou-me no caminho

Feijão eu comi bem queimado

Eu subo no barco que construí

Rezo bem alto em mim

Dedico todo o meu sorrir

O mal sempre tem um fim

Pra um obrigado um florir

Uma criança eu vi

Tudo que valha em si

Minha força vem de Ti

Polícia achou que era bandido

Livrei-me, mas ainda apanhei

Ao abrir a boca engoli mosquito

Da estiva da vila eu despenquei

Pisei na rama do murumuru

Morcego mordeu-me a orelha

No porre dormi com um mutum

Rasparam-me a sobrancelha

Ex-sogra disse que eu não prestava

Cunhado deixou um prejuízo

A rasga-mortalha me agourava

Doeu-me o dente do juízo

O barco encalhou na vazante

Na terra das carapanãs

Um breu é o que vejo adiante

Pousou no meu ombro chicuã

Saia fora e voa pra os teus

Não acabas com sonhos meus

Não terei a morte daquele Orfeu

A Santa já intercedeu

Escritura que me valeu

Motivo do amor comoveu

Se ainda não convenceu

Eu teimo sendo de Deus.