JOÃO MINA

João Mina, nego ritintu

Falo dele e sinto

Sodadi no meu coração.

Me viu nacê e crescê

E eu vi ele morrê

No memu pedaço de chão.

De madrugada saía

Na sua carroça vazia

Pra exercê a profissão

Cantarolano ele ia

As dor do coração.

No matadô trabaiava

E ele sacrificava

Um eito de bichu bão!

Vortava, de sangue, tingidu

Tarveiz cum peito firidu

Da marvada profissão.

Num trazia no ôio a leitura

Mais tinha na arma, ternura

Pra muitos letradu insiná...

Prantava cum oiá a sementi

Do amô, em carqué lugá!

Foi a vida a sua iscola

Num careceu de ismola

Nunca, pra ele vivê...

Assustentô os seus dia

E tamém os da famía

Inté dispois de morrê.

Buscava prus cavalo no mato

Tudu dia, os tratu

Que dava pra eis cumê.

Coisa do sô João Mina

Queu custei intendê.

Num isforçava os animar

Dexava eis no quintar

E força ele ia fazê...

A carroça ele puxava

Subia o morru, suava,

De pingá água no chão

A tarefa era pesada

Mais ele nunca faiava

Cus bichu de istimação.

Sór e chuva, nem ligava

A carroça ele levava

Se rino de sastifação...

Eu era a sua Lorinha

Ele tinha as palavra prontinha

Pra dizê ao me chamá:

Lorinha, Lorinha, Lorinha

Perciso cum vancê prusiá!

Falava e já de siguida

Gargaiava sem pará!

Era um homi tão bão

De risada e coração

De tudu mundo gostá.

Eu é que num intindia

O purquê dele ocupá

O lugar dos animar

E a carroça ele puxá.

Só dispois de muitos anu

É que eu fui intendê

O preçu de uma amizade

Amizade pra valê.

Os cavalo levava ele

Pro pão do dia ganhá

Nada num era mais justo

Do que eis tamém discansá.

Hoje discansa os treis

E quem sabe , mais uma veiz

A história se arrepetirá...

Por entre as nuve tão branca

Um nego de risada franca

A carroça irá puxá!

Tina Oliver
Enviado por Tina Oliver em 12/10/2013
Reeditado em 28/12/2014
Código do texto: T4522692
Classificação de conteúdo: seguro