MARIA RITA

Essa estória eu vô contá

E ocê pode aquerditá

Foi ansim que aconteceu...

Uma cabocra bunita

De nome Maria Rita

Foi pra sofrê que viveu!

Naceu cá na Rocinha

Essa prenda de mocinha

Dos zóio cor de juá.

Inté o ispeio invejava

Quando ela nele oiava

Prus cabelo arrrumá!

Foi um dia pra cidade

Chegada a frô da idade

Caricia de istudá.

Cunheceu por lá Tom Zé

Disincaminhadô de muié

À ele foi se intregá!

Nesse dia a natureza

Chorô tantu de tristeza

Veno aquela pureza

Toda se acabá...

Tom Zé disonrô a moça

Num quis cum ela casá

O pai dela arrevortado

De casa foi lhe expursá.

Seu distino foi a rua

De cúmprice, só memo a lua

Que vinha cum ela chorá!

De sete meis naceu um minino

Que sabia Deus o distino

Que tava a lhe isperá.

Num quis dele vê o rosto

Chorano o amargo disgosto

Daquela sina infrentá!

Esse minino eu renego

Nem nus meus braço eu pego

Num quero lhe abençuá!

Pra aquela que feiz o seu parto

Entregô a ropinha no quarto

Que ele divia de usá.

Cum a medalha de Santa Rita

E num cocheti cum fita

Na ropinha foi pregá.

Duas letra gravada tinha

Era du nomi que invinha

Da mãe, as iniciá!

Foi imbora a criança

Ficô a minina de trança

Pra vida continuá.

Se tornô a meretriz

Mais linda e infeliz

Daquele memo lugá.

O tempo avuô ligero

Os ano troxe um istrangero

Pra ali advogá!

Mocin bunitin e formadu

Por ela fica incantado

Toda noite vai lhe incontrá.

Tempu dispois, de repenti

O prosório de toda genti

Cumeçô a si ispaiá...

Maria Rita, muié madura

Tevi a tristi disventura

De por um rapaizin se apaixoná

Linda e pobre criatura

Deli foi imprenhá!

Num disispero medonhu

Cum o coração tão tristonho

A nutícia pru moçu foi dá.

Era tanta aligria

Que só de oiá já se via

O rostu deli briá!

Relata intão sua istória

Du jeitu que arguém lhi contô

Que nu dia du seu nacimentu

A morti, a mãe lhe levô.

A única herança, a medalha

Que pra sua madrinha intregô

Com a imagi de Santa Rita

De quem o nomi herdô.

Puxô du peitu a correnti

E pra ela, eli mostrô.

O passadu nu presenti

Nus seus zóio dispontô.

Ao vê intão a medalha

O preço do pecado pesô

Num disispero de causa

Seu corpo à terra intregô.

De noite, bem na surdina

O fio ela abortô

E chorano sua sina

Ela mema se matô!

Que distino mar traçado

De um único pecado

Quantos pecado vingô!

Tina Oliver
Enviado por Tina Oliver em 17/08/2013
Reeditado em 30/10/2014
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