TREM MINEIRO

O ferro espreguiça e serpenteia
Estirado no estrado de madeira morna
Expandindo-se ao forno do sol
Face doída e doida dada ao pó do chão
Costas doadas ao peso do dever

A pedra dorme
Com o dormente aos ombros
Aguardando o futuro
Do pé que a chute
Do temporal que a lave
Do movimento mágico
Que a faça rolar

O passageiro espera
Apoiando na mala
Suas incertezas
Olhar perdido no infinito
Na busca do amanhã
Que persegue sem ver
E imagina mas duvida

A criança baila solitária
Cavalgando heroicamente
No silêncio da nuvem de poeira.
Na mão, a espada imaginária
Rasgando o ventre bandido
Do tempo que virá

O sino, o apito, a fumaça,
A aproximação ritmada
E chega o dragão,
Arrotando fumaça preta

A partida...

Na leveza do gigante que desliza
quadro-a-quadro
O ferro carrega a cruz
A pedra levita o tempo
A criança leva o sonho
O passageiro, a esperança
A serpente, os pecados do mundo
A fumaça, o amanhã chamado jamais...