O PRANTU DO CÉU...

A seca tava das braba

Pricisava aguá as frô

A terra água improrava

Pro nosso Pai Criadô.

Os riberão viraro córgo

As represa, uns riuzin

Dava dó oiá as pranta

Os pasto tava sequin.

As coitadinha das vaca,

Dos boi e dos bizerrin

Passava as língua no chão

Sem rapá ninhum matin

O sór isturricava a terra

A quentura machucava

Inté memo os passarin

Sombra eis prucurava...

De noite a lua no céu

Chuva longi anunciava

Rodiada do crarão perto

Chuva ainda demorava.

O povo lavava o santo

Pra água do céu iscorrê

Punha ele imbaxo da bica

Pamodi ele intendê.

As prece e as recramação

Por muitos méis sem chovê

Dexô o santo nervoso

Que disordi foi fazê.

Iscureceu ele o dia

O sór em lua virô

Os truvão gritava tantu

Que de medo as nuve chorô!

O prantu foi tão violento

Os crarão alumiava

Nunciava coisa feia

Tempestade disabava.

Um raio deceu lambeno

A arve mais arta que tinha

Dibaxo dela iscondeno

Um lote de vaca minha.

O istrondo foi tão arto

Que quaji nóis insurdô

O tiro foi tão certero

Que quinze vaca matô.

Lá fora caía a chuva

Dos meus zóio água iscurria

Pur num tê cumu sarvá

Os bichu que eu bem quiria.

Deus me deu a competença

Preu tentá aliviá

A dor que os bicho senti

Se eis duenti ficá.

Mais ninguém é capaiz não

De podê aminizá

A fúria que evem do céu

E a hora dela chegá!!!

Obrigada POETA Oklima pela interação:

O sertanejo, sedento,

sobre a seca faz vigília.

Sente a sina da família

só pelo sopro do vento.

Preso ao próprio pensamento,

quer da vida um passaporte

que da miséria os transporte

ao sortilégio sulino.

A seca é soar de sino

nos campanários da morte.

Tina Oliver
Enviado por Tina Oliver em 30/04/2013
Reeditado em 23/05/2014
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