SODADI
De noite cá mamãe na cuzinha
No radin de pia nóis ovia
As moda nele tocá.
Ela cantava ingraçado
Nóis bem ali do seu lado
Risada cumeçava a dá.
Ela intão me dava um bejo
Cortava a massa do quejo
Que ia sirvi no café.
Nóis inté lhe ajudava
O soro do leite pegava
Pra levá pru porquim do Mané
Quando ia chegá os primo
Nóis ficava antão si rino
Cum sapatinhu no pé.
Os pareio de ropa que usava
Era aqueis que nóis ganhava
E ficava bunitin, inté
Pra tirá um retratin
Nóis penthava o cabelin
E mamãe mandava ri.
Nóis cum vergonha si oiava
Us zoin arregalava
Quereno sumi dali.
Na panela o franguin
As veiz inté um leitãozin
Que ajudemo a criá.
Purque tinha chegado gente
Mamãe alegre e contente
Fazia preis armuçá !
Inté os cachorro invinha
Cumê cum nóis na cuzinha
Os osso do chão catá !
Arroiz doce cum rapadura
Era aquela gustusura
Que ela sabia fazê !
Nóis cumia, lambuzava
A boca cás mão nóis limpava
E o Ki-suco ia bebê.
Nóis durmia intão no chão
Pra dá pras visita o cochão
Pru corpo deis num duê
Que sodadi hoje me veio
Eu óio ali no espeio
E si oiano eu posso afirmá:
Nossa vida só foi de riqueza
Em nóis num havia tristeza
O mundo intero era lá ! .
Obrigada amigo Oklima pela interação:
Mas agora, já cricida
os causos da nossa vida
são causu de gente boba!
Uns primo vêm da cidade
Rôba de nois a metade,
condo vorta o resto rôba. Cumêro nossa galinha,
os filé da bacorinha,
o fejão, a carne, o angu,
e adispois queles se fôro,
ficou ca rôpa do coro
o meu pai, faminto i nú.
Esses primo senvergonha,
na safadeza medonha,
siscundia o dia intêro.
Dois omão de bom tamanho
vendo a gente tumá banho
nas berada do barrêro!
Té qui um dia um guaiamum,
garrou nos ovo de um,
torano pela metade.
Foro imbora o mais urgente,
mais condo alembra da gente,
do ovo sente sodade!