BEM QUERENÇA
Tenho pamodi ocê
Uma benquerença tão grandi
Que eu tenho medo inté de falá
E ocê se assustá
E num querê nunca mais me oiá!
Diz o povo que quando a gente gosta
Mai gosta de verdade, é memo ansim
A genti tem medo de falá
Tem medo inté de pensá
E se vive de sonhá!
Eu vô memo se arriscá
E o meu sonho eu vô contá.
Adispois num se importo
Se ocê de mim se afastá
Purque o meu sonho
Junto com ocê, ocê vai levá!
Meu sonho é uma casinha
Humirdi e inté pobrizinha
Só memo quarto e cuzinha
Dois condin pra nóis morá.
Na cuzinha um fugãozin
Um fumero e um banquin
Pra em riba dele ficá.
No fumero ispindurada
As tripa de porco lavada
Isperano pra fritá.
As paia de mio secano
As linguiça defumano
E nóis dois a cunversá.
Na paredi uma foinha
Lá da loja da Lazinha
Nóis vai pô pra infeitá.
Nela marcá todo dia
As hora de aligria
Os meis que vai se achegá.
Na pia a taia cum água
Que perto da mina da istrada
Junto nóis foi lá buscá.
Um copo do lado isperano
A frô disabrochano
Que nóis vai nele dexá.
O nosso cantinho humirdi
Perfumoso há de ficá!
Nóis pega e leva pra santa
Se rino, junto nóis canta
As reza que vamu rezá.
Pidi pra ela um fiinho
Um cabocrin pititinho
Pra junto de nóis vim ficá!
No quarto a rede isticada
Um radin pra nóis dá risada
Dos causo que nóis iscutá.
Quando chegá o mininin
Nóis põe ali um bercin
Um jeitu nóis há de dá!
Adispois dele criscido
Nóis já quais que inveecido
Junto os treis nóis vai rezá
Agardecê a riqueza
Que nóis na nossa pobreza
Cunsiguimo acumulá...
Um fio pur nóis criado
Um amô abençuado
E um cantinho pra morá!.