CUM'ERA A VIDA NO SERTÃO

Sou matuto sou roceiro

Me criei nos cafundó

Sou sertanejo da gema

Lá das banda dos moco

Quando o Sol tá bem a pino

Castiga o côro sem dó

Campeei gado nas brenha

R a n q u e i t ô c o fui carreiro

Morei em casa de taipa

A d i s p o i s fui ser o l ê r o

Fiz tijolo até fiz teia

Pás galinha fiz p u l e r o

Num fiz teia cu'ma aranha

Mar pá c u b r i r os c e l ê r o

Donde guardava os provento

T r a b a i o d'um ano i n t ê r o

T o m b é m pá fazer tapera

Qui'abrigava us c u m p a n h e r o

Nos tempo de t r u v u a d a

As g o t ê r a p r e t u b a v a

Pingava pru todo lado

Nos cantinho n o i s ficava

I n c u í d o tá quá pinto

In riba dor moi de fava

Seu m i n i n o se'eu li conto

O c ê d i f í c e acredita

A vida de sertanejo

Até parece desdita

Mai juro q'era assim mermo

Quem viu de perto acredita

Nos tempo de verão brabo

Nas catinga eu mim' fiava

Meu pai cun 'a i t r o v e n g a

Ar macambira cortava

F a c h ê r o m a n d a c a r ú

Era o qui a gente i n c o n t r a v a

Fazia grandes coivara

E os i s p i n h o queimava

Antes de 'o fogo apagar

O rebanho i n b o c a v a

No m e i daquelas coivara

A p o i s a fome era braba

Os b i c h i n c u m i a tanto

Qui as veis i n t é se babava

Pá num vê aquelas cena

Meu pai de lá se 'arrancou

Trazendo c'um ele n o i s

Conselhos do nosso avô

Pá mode a gente i s t u d a r

Pois se a sorte ajudasse

Uns pudia ser doutor

I s c o l a num tinha lá

Naquelas brenha esquecida

Meu pai juntou toda t r e n h a

Vendeu pá buscar guarida

Vinhemo i m b o r a pra cá

Pá recomeçar a vida

Eu já era m u l e c o t e

C'um doze anos de 'idade

I s t r a n h e i q u i n é m a gota

A vida aqui na Cidade

Mermo assim fui me ajeitando

Pegando capacidade

Mermo assim istudei pôco

Pois prucê eu já taludo

Ví tanta muir facêra

Mui min gracei de verdade

Poquin aprendí a ler

Essa 'é a pura verdade

Pur isso as tantas tronchura

Qui rasbiquei nesses verso

Mai achei qui era bom

Contá pá todo Universo

Qui a vida de sertanejo

Era assim mermo eu confesso.

Do meu livro Divagando Nas Asas da Imaginação.

Meu blog: http://dedeseixas.blogspot.com.br/