Meu Sertão
MEU SERTÃO
Vou pegar
Carona com o vento
Quero fazer parte
Dos mistérios do sertão
Varrer a terra
Com as asas do pensamento
Regar o sagrado alimento
Que brota desse chão...
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Jaguatirica
Escondeu-se toda matreira
Deixei meus olhos na corredeira
Onde o peixe vai passar
A Saracura
Já cantou lá brejo
E quanto mais eu rezo
Mais aparece o Biguá...
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Viajar no canto
Do sábio Bem-te-vi
Sabia já ,sabiá
No dueto com a Juruti
João-de-barro na invernada
Protegendo sua amada
Com esta orquestra afinada
No galho do Tingui...
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Entrei na mata
Pelo cheiro da Macambira
E catei logo uma embira
Pra amarrar o Jatobá
Levei pequi
Mangaba e murici
Araticum deu logo o grito:
- Leve também o Araçá!
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Descansei debaixo da Aroeira
Aos olhos do Pau-pereira
E do nobre Jequitibá
Eu vi o cedro
Falando pro ipê:
- Esse matuto é de fibra
É canoa de Tamboril
Que é difícil de encharcar!
É o sertão em minha alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Aqui é o meu jardim
Dos meus versos e minha prosa
Por onde passou o Rosa
Riobaldo e Diadorim
Eu vejo o arreio
Do nobre Manuelzão
E o facão amolado
Do seu amigo Miguilim...
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Batizei-me nas águas dos rios
Submerso de arrepios
E m’alma se encantou
Rio Pardo
E Rio Urucuia
O Velho Chico
Abraçou-se ao Velhas
E nos braços de Iemanjá
Ele desaguou...
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Por entre serras
Serpenteia o meu trem
Serras azuis
Fogão à lenha
E chaminé
No meu sertão
Tem tambores no Congado
E a negritude de muita fé!
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Abri porteiras
Por entre cercas e animais
Saciei a minha sede
À sombra do misterioso Buriti
Sou criação
Veredas e mananciais
Umbigo na terra
Ó Minas Gerais...
É o sertão em m’alma
Que acalenta e me acalma
Inté dá vontade de chorá...
Inté!
Tinga das Gerais