Pequeno boiadeiro

Pequeno boiadeiro

Heleno de Paula

Encurralado pelo destino

Já tive medo das coisas da vida,

Das incertezas, da Caatinga,

Dos absurdos e dos males envoltórios.

Eu, apenas criança, um pequeno boiadeiro,

Burlado pela responsabilidade do trabalho

Precocemente padeço dia a dia

Pele e osso, alma com sede,

Clamo em desespero:

Cede minha Nossa Senhora aos apelos que faço.

Ave Maria!

Abolido das brincadeiras,

Mesmo sem querer ter sido liberto,

Finco aqui minha bandeira

Iletrado sim, não disperso.

Judiações...

Calos nos pés, nas mãos e suor nos olhos.

Ah! Esse sim, esse me faz chorar.

E como arde!

Arde o sol, o solo seco e a minha infância.

E assim as coisas passam...

Rogo sempre: Há que passar!

Sonho com as trombetas dos anjos

Acordo ao som do berrante,

Antes mesmo de a aurora apontar.

Levanto. Canto e lamento...

Ê boi, ê boi, ê dor... Que ironia!

Minha sina de tristeza foi marcada

Feito o gado por ferro em brasas

Eu berrava e ele gemia.

Acessem: http://poesiasdoheleno.blogspot.com

Heleno de Paula
Enviado por Heleno de Paula em 06/08/2012
Código do texto: T3817127
Classificação de conteúdo: seguro