Pequeno boiadeiro
Pequeno boiadeiro
Heleno de Paula
Encurralado pelo destino
Já tive medo das coisas da vida,
Das incertezas, da Caatinga,
Dos absurdos e dos males envoltórios.
Eu, apenas criança, um pequeno boiadeiro,
Burlado pela responsabilidade do trabalho
Precocemente padeço dia a dia
Pele e osso, alma com sede,
Clamo em desespero:
Cede minha Nossa Senhora aos apelos que faço.
Ave Maria!
Abolido das brincadeiras,
Mesmo sem querer ter sido liberto,
Finco aqui minha bandeira
Iletrado sim, não disperso.
Judiações...
Calos nos pés, nas mãos e suor nos olhos.
Ah! Esse sim, esse me faz chorar.
E como arde!
Arde o sol, o solo seco e a minha infância.
E assim as coisas passam...
Rogo sempre: Há que passar!
Sonho com as trombetas dos anjos
Acordo ao som do berrante,
Antes mesmo de a aurora apontar.
Levanto. Canto e lamento...
Ê boi, ê boi, ê dor... Que ironia!
Minha sina de tristeza foi marcada
Feito o gado por ferro em brasas
Eu berrava e ele gemia.
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