Li o nome ipê
Ipê é pau-d’arco, li no jornal, o que me levou à Mata
Voltei e vi, um começo de inverno, da puberdade
E o abandono da santidade
Guiado pelo toque do bronze, senti o prenúncio da festa
Degustei a música da voz de estranhos
E tudo parecia novo naquela manhã:
O mato, a terra molhada, abelhas acrobatas amarelas
Sob raios de um sol diagonal de sete e pouco
Eram verdes minhas horas, minutos e segundos
Eu ainda olhava mais pros olhos e seios das moças
Do que pras suas pernas
O som do acordeon soava acústico, puro pulmão
O odor de milho verde cozido e o perfume dos transeuntes
Impregnavam minhas narinas
Um padre velho viria repetir os ensinamentos de Cristo
Abençoar, advertir e acrescentar aos ouvintes
Que não fizessem o que ele a muito custo tentava evitar
Mas o perdão seria distribuído generosamente ao final
E haveria festa, leilão, bebedeira, dança, namoro, beijo,
E algum novo casal podia até fugir e se acasalar na selva
Vi tudo isso e um pouco antes pelo caminho
A mocinha bonita da cidade, sem acanhamento
falando tanto e dizendo pouco
Se interessando por nomes de plantas, peixes e sangue-sugas do açude, seguindo com o olhar cachorros, cavalos e os vôos dos urubus
Enquanto nós, meninos, homens e mulheres
Olhávamos pra ela e nos admirava sua admiração
Por cantigas de bem-ti-vis
O séquito seguia de roupa nova, homens tragando cigarros fortes
Mulheres de vestidos estampados
Uns a pé outros a cavalo
Um rastro de cobra cruzando a estrada,
Era uma cascavel alguém garantiu, e foi recente
Cancões bradavam seu canto de espanto no mato
E a serpente era o alvo certamente
Aquelas aves formais de pluma preta e branca
Tal músicos da orquestra, arregalavam ainda mais os seus olhos de loucos, as vergônteas de marmeleiro e velames trajavam verde novo
Pra admirar o cortejo colorido em diração à igrejinha da Mata
De paredes grossas, ao lado do córrego, em frente ao grande Juazeiro, Onde uma minha tia solteirona desenterrara botija
Doada em sonho por um defunto de outrora, pessoa do lugar
Como éramos nós e os paus-d’arco da capoeira