Barqueiros

Barqueiros

Há muito tempo o barquinho

Já não desce o Riacho do Navio

Em direção ao rio Pajeú.

E só muito poucos ainda lembram

Do Caronte de pele tostada pelo sol

E chapeu de couro de bode

A quem confiavam suas vidas

Nas viagens quase diárias.

Hoje o Pajeú é só um fiozinho de vida

Que luta prá chegar ao Velho Chico

E são poucos os navegantes

Que conseguem ouvir o seu choro

De uma morte a muito tempo anunciada.

A nova geração de carontes, nem de barqueiros

Querem serem chamados, são os timoneiros modernos

Até já falam em outras linguas diferentes

Mas não sabem ouvir nem falar a linguagem dos rios.

Da margem desnuda do rio, o velho barqueiro

Com o chapeu de couro de bode ver as gaiolas

Passarem com suas carrancas de dentes

Arreganhados para assustar os espiritos do rio

Mas não assustam os maus espiritos do progresso

Que o destroi a passos largos.

Muito em breve alguem assinara o atestado de óbito

E nele esta uma palavra que o velho barqueiro

Nunca tinha ouvido falar. Transposição.

E estará selado para sempre o destino do Velho Chico

Tudo em nome do progresso e da prepotência.

Descanse em paz, Amém.