O BOM USO DA TRISTEZA...
Adispois de tanto tempo
distante do meu sertão
aqui de vorta me encontro
mode repará a prantação.
Má homi de Deus!
O que foi que ocês fizero
do verde do meu chão?
Tudo agora é só cinza
é feio feito um tufão.
O riozinho corria ligêro
e por dimais incantava
os zóio desse minêro.
O que vejo hoje aqui
fez de mim um véio triste
de sabê que o homi insiste
em martratá o meu terrero.
Meu terrero é esse chão
onde léguas caminhei
visitando os passarim
e matando a minha sede
no rio sempre limpim.
Má rio já num tem mais
a prantação mingô e virô pó
e os zóio desse véio
agora chora de fazê dó.
Mas a terra há de aceitá
as lágrima da minha tristeza,
ei de derramá uma a uma,
de arguma coisa servirá, tenho certeza.
As lágrima do véio já é pôca
má delas vô irrigá o meu chão
se o que incontrei de vorta
fez de mim um homi triste
vô fazê bom uso disso
pra dá vida pro sertão...