Carreteiros

Junho de 2009

Carreto que vai, que foi

que vem,

boné na cabeça, porto de Belém

os pés já descalços, bermuda

velha

carrego empreita, mais mil

as telhas.

A tábua escorrida, descendo

o barco

a caixa desliza, farinha

o saco

bolacha, manteiga, biscoito

então

e cai dentro d’água, mas presta

atenção!

Olhando da rede,

um passageiro

escuta a apontada

de um carreteiro:

“te cuida, ó macho, a faca

aqui

num é brincadeira, vou te

partir”

o outro que ri, nem vai

ligar

só fica a jogar, pacote

no mar.

“Curralinho é o lote, e

Gurupá?

O tal babaçu, onde é

que tá?”

Tomate, cebola, alho

pepino

me passa a menina e o

menino.

E joga xarope de um

guaraná

“umbora dipressa vai

chuviscar”

“e manda a cachaça

a buchudinha

vou é tirar uma

põe na listinha”

“deixa isso aí, senão

senão

já vou te manjando

seu malandrão!”

E “vai tipraporra!”

E “vaitipramerda!”

“vou ti mete faca

nas tripa certa!”

E rola no chão, no punho

a faca

e um escorregão, cai na

estaca

e cai dois do porto, no sujo

a lama

“e vai ti embora, conheço

a fama”

“eu vou ti pegá, tu podes

crê

e reza pro Santo, que vais

morrê!!”

O dono do barco, enfim

apita

mulher perguntando, assim

aflita:

“Ô meu Pai, que mundo

louco

dois homi brigandu, motivo

pouco...”

E quando à noite, lá no

piseiro

os dois se encontram, lá vem

braseiro

é uma risada, de lá

de cá

é encarnação, de cá

de lá

e então os carretos já vão

eternos

e seus condutores, maus, vis

fraternos.