Coração de Caboclo

Coração de Caboclo

Óia seu moço

Foi no ano passado

Naquela festa de reis,

De lá prá cá o coração

Anda meio aperriado.

Moço eu nunca

Tin'a ôiado de pertim

Uma fulô de mandacaru

Num vô isquecê

Aquele dia nunca.

Quando nois chegô

Na casa de Seu Chico

De Dona Isabé

Ela tava na jinela

E entrô gritan'o o avô

Num se aperrei não, moço

Eu vô dizê o nome dela

Mas bem baxim

Que é pá num butá ciúme

Nas fulô do meu sertão.

Quiterá, pois é, Quiterá

A neta do Seu Chico.

Pur essas banda

Num tem rapariga mais bunita.

Os óio dela é cuma

Duas jabuticaba, e os cabelo

Qui chega nais anca é preto,

Preto qui nem as pena do Assum-Preto.

E as buchecha moço

Rosada, bem coradin'a,

A boca é vremeia taliqua

A fulô do Mandacaru.

E quando ela dá uma gargaiada,

Cê vê os dente moço, branquim inguá quaiada.

Ainda mim alembro

Dos pezim dela no samba

Nem paricia qui tava no chão.

Num para de pensá no requebro

Das cadêra, acumpai'n ando

O miudim da viola.

Meu patrão o Sinhô

Já viu a fulô do Musambê

A fulô do Croata?

Acridite vosmicê, tem qui ajuntá

Essas fulozin'a tudo,

Pá pudê sê iguá a min'a Quitera.

Já fais tempo, eu tô ajuntan'o

Um din'erim, vô comprá

Un'as vaquin'as prú que eu já aresorvi.

Vô pidi a mão da Quitera im casamento

Só tô isperan'o chega

De novo o Dia de Reis.

E o Sinhô já tá cunvidado

Seu moço prú meu casamento

Num vejo a o'ra desse dia chegá

Esse negoço de amô sozin'o

É munta agunia, o danado do coração

Num dá assusego um istante.

Óia patrão é gastura prú dimais, Avi Maria!