Aos Arrancos
Não sei dizer poesias como tú
Sou só um caboclo matuto
Com um coração que bate aos arrancos
Como um cavalo que nunca viu sela.
Sou um escrevedor de dizeres
Que vão saindo sem nenhuma delicadeza
Como as golfadas ou vomitos
Que vertem do centro da terra.
Não, não sei dizer poesias como tú
Eu tenho os meus versos duros
Como os cascos dos bodes
Que pinotam pelos lageiros
Ou as marretadas fortes do homem
Que faz da pedra as imagens
Dos santos que vai vender na feira.
Eu não sei dizer poesias como tú, não
Eu tiro meus versos do peito
Como o garimpeiro arranca o ouro bruto do chão
Ou como a parteira que arranca
O filho do ventre da mãe
Mas se comove com o choro da cria.
Não, eu não sei fazer versos como tú
Sou só um escrevedor de dizeres
Que vão saindo assim aos tarramotes
Como um aboio cortado no meio da caatinga
Pela queda do garrote
Não, eu não sei fazer versos como tú não.