Um ano ruim de inverno
Num ano ruim de inverno
Sofremos diariamente
Agricultor fita o olho
Mirando para o nascente
Pedindo a Deus que não puna
Nosso Nordeste inocente
Nada é suficiente
Na mesa é tudo meado
A rês se acaba de fome
Seca tudo no roçado
No são João de um ano ruim
Não tem festa e milho assado
Encostam logo o arado
Não vem uma providência
A vaca comendo cacto
O rebanho em decadência
O sertanejo se humilha
Nas frentes de emergência
O povo tem mais carência
Só resta fé no devoto
Espertalhões se aproveitam
Há muito tempo que noto
Prometem transposição
Iludem pra pegar voto.
Paisagem só a da foto
Chuva só nos resta o nome
O nordeste aperta o sinto
Diminui o abdome
Preá veado e tatu
Morreram todos com fome.
A fauna toda se some
Bentivi, fogo pagô
Dez de seca e um ano bom
Índice desanimador
Seremos os responsáveis
Da morte do salvador.