Um ano ruim de inverno

Num ano ruim de inverno

Sofremos diariamente

Agricultor fita o olho

Mirando para o nascente

Pedindo a Deus que não puna

Nosso Nordeste inocente

Nada é suficiente

Na mesa é tudo meado

A rês se acaba de fome

Seca tudo no roçado

No são João de um ano ruim

Não tem festa e milho assado

Encostam logo o arado

Não vem uma providência

A vaca comendo cacto

O rebanho em decadência

O sertanejo se humilha

Nas frentes de emergência

O povo tem mais carência

Só resta fé no devoto

Espertalhões se aproveitam

Há muito tempo que noto

Prometem transposição

Iludem pra pegar voto.

Paisagem só a da foto

Chuva só nos resta o nome

O nordeste aperta o sinto

Diminui o abdome

Preá veado e tatu

Morreram todos com fome.

A fauna toda se some

Bentivi, fogo pagô

Dez de seca e um ano bom

Índice desanimador

Seremos os responsáveis

Da morte do salvador.

Cristóvão Jacques
Enviado por Cristóvão Jacques em 03/04/2011
Código do texto: T2887341
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