_ Zé Macumba _

Nu'a quarta-feira de cinza,

Zé inventô di si matá!...

Incheu a cara di pinga,

Pra despois podê atirá!

Zé tinha u'a conta pra acertá,

Bem na noite di natá;

Mais pidiu pra prolongá,

Pra despois do carnavá.

A tar dívida co'seu Carlo,

Qui levô — disisperá...

Pidiu pra Maria do Carmo,

Pra arrumá seu funerá!

Di manhã já 'stava quente,

Com mais di quarenta grau;

Cunvidô — todos parente...

Pra rezá pra Santo Graal.

Já 'stava bem dicidido,

Co'a sua vida terminá...

Mais aos pranto, num gemido,

Sua muié, pois si arvitrá:

— "Dibaixo di sete parmo,

Vamo tudo si infurná!...

Carma, Zé!... fique mais carmo...

— Num precisa si avexá!

Si é macumba — dam'um jeito...

— Ocê vai sobreviver!...

Vai ficá tão satisfeito,

Quando nóis arrezorvê!

Co'o dispacho do feróiz,

— Ocê vai ficá curado!...

Dêixi, Zé!... deixa cum nóis;

Nóis ti livra do estoirado!".

Intonce, a Maria do Carmo,

Nem pensô na catacumba...

Contratô u'a mãe-de-santo,

Pra livrá Zé da macumba.

Pra 'squecê a tar macumba,

Zé 'scondeu no capinzá;

Queria u'a cova bem funda,

Pra ninguém mais amolá.

— "Foi num dia, di sor quente,

Qu'eu rezei pra Iemanjá;

Quando vi a tar serpente,

Querendo mi 'strangulá!...

Foi aí qui arrezorvêro,

Mi levá prum tar ofurô...

Pra 'spantá o tar severo,

Co'um bendito d'um tarô.

Pra tirá o tar do capeta,

Mi amarraro co'um cordão;

Fizero, eu chupá chupeta,

E tiraro o meu carção!

Mi levaro prum ofurô,

Pra tirá a tar macumba...

Puzero fumo e fulô... —

Quase intrô na minha bunda!

Mergulharo até o pescoço,

Co'a bendita d'uma image...

Foi um inorme d'um arvoroço,

Quando eu vi a tar mirage.

Colocaro muitas erva,

Mais trêis pacote di sar;

Puzero a Carmo, di serva,

Pr'eu na água, nu'afogá.

Truxero u'a galinha preta,

Pro dispacho — cumpretá;

Mais o diacho do capeta,

Só pensava em infernizá.

Foi no banho di sar grosso,

Qui acabei co'aquela inhaca...

Eu fiquei só pele e osso,

Junto a pobre da tô-fraca.

A água tava tão quente,

Qui a do Carmo mi largô;

Mi acudiro — tão urgente...

Qui a penosa si sortô!

Si agitô — batendo asa...

Achando qui ia morrê;

Sacudia tod’as brasa,

Pra fumaça — iscurecê.

Despois qui acendêro as vela,

Fiquei todo infumaçado...

Dero uns tranco nas costela,

Mais num vi quar o disgraçado.

Já ‘stava todo inrugado,

Co’uma baita d’uma cruiz...

Rezaro pra Deus louvado,

Pr’eu fazê o siná-da-cruiz!

Pramórde, eu ficá curado,

Acendero muito incenso;

Pidiro pro mar-humorado,

Isquecê o pobre indefenso.

No meio daquele incenso,

Já num via mais ninguém;

Tive um medo tão intenso,

— Di virá matusalém!

Pra 'spantá o tar do diabo...

Fizero mais trêis macumba;

Fiquei lá, qui nem quiabo,

Bem do lado da zabumba.

Já gastaro u'a caixa-d'água,

Lá no meio do terrêro...

Mi jogaro drento d'água,

Pr'eu ficá no disispêro.

Seu Carlo já 'stava brabo,

Co'os capanga na tocaia...

Contratô logo dois cabo,

Pra ficá lá na atalaia.

Os cabra são bem valente,

Na pexêra — num tem dó!...

Já mataro muita gente... —

Vão interrá nos cafundó!

Vou tê qui vendê o cabrito,

A gaiola e o meu Trovão;

Despois qui saí essi 'sprito,

Da assombrosa mardição!".

Paulo Costa

Pacco
Enviado por Pacco em 20/10/2010
Reeditado em 06/10/2011
Código do texto: T2568241
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