MARIA DA GLORA

Por aqui, nas redondeza

deste sertão sem porteira,

eu bebo da Natureza

e a vida mim vem inteira.

Eu desafio o vivente

que tenha mió mirante,

em seca tão inclemente,

que nem meus óios amante.

Do dia às premêras hora,

rino o sol nos horizonte,

vejo Maria da Glora,

já se vino lá da fonte.

Naquele jeitin' bacana

de donzela recatada,

é ver a samaritana

da nossa Bibla Sagrada.

Lata d’água na cabeça,

ela, coipin' bem bolado,

cuma qui num se pareça

um anjo em muié virado?

Então, na porta, madrugo

d'oiá fito no camin’

e mais me faço um verdugo,

pur nem sabê mais de mim.

Quero Maria da Glora

muntas vez ino e vortano,

na estrada, de rumo a fora,

que assim mais eu vô lhe olhano.

Hei de ver essa Maria

da Glora, como se diz,

toda manhã, todo dia,

nas beira do meu nariz.

Fort., 04/05/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 04/05/2010
Código do texto: T2237308
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.