MARIA DA GLORA
Por aqui, nas redondeza
deste sertão sem porteira,
eu bebo da Natureza
e a vida mim vem inteira.
Eu desafio o vivente
que tenha mió mirante,
em seca tão inclemente,
que nem meus óios amante.
Do dia às premêras hora,
rino o sol nos horizonte,
vejo Maria da Glora,
já se vino lá da fonte.
Naquele jeitin' bacana
de donzela recatada,
é ver a samaritana
da nossa Bibla Sagrada.
Lata d’água na cabeça,
ela, coipin' bem bolado,
cuma qui num se pareça
um anjo em muié virado?
Então, na porta, madrugo
d'oiá fito no camin’
e mais me faço um verdugo,
pur nem sabê mais de mim.
Quero Maria da Glora
muntas vez ino e vortano,
na estrada, de rumo a fora,
que assim mais eu vô lhe olhano.
Hei de ver essa Maria
da Glora, como se diz,
toda manhã, todo dia,
nas beira do meu nariz.
Fort., 04/05/2010.