SINHÔ JARABEBE E UM CERTO “HOMEM” SENIL (DEPOIS VER-SE-Á UMA CRIANÇA DOCE NOS GESTOS E UM POUCO AGRADÁVEL DE TREJEITO)
(Infinito episódio dialogado e folhetinesco, entre aquele que retirou-se e um homem sibilino demandando mil e tantas informações a ele. De como descobre-se a secreta porém reveladora identidade de um boneco tão pequenino quanto fidelíssimo - apesar de, no futuro, um pouco calhorda. A procura pelas dunas da felicidade entra também como ingrediente indispensável nesta cena eterna e assaz emotiva.)
- Saí da terra, caminho do mar,
Andei por sequência,
Sem titubear,
Passei com clemência
Por águas e ar,
Deixei sem dolência
Os filhos, o amar...
Cantei como quem
Tentasse deixar
A vida pregressa sem
livro, sem lar
Em que sofre poesias
De mestre... E verá,
De olho ferido em dias
Meu caminhar
Onde pedras não riem
Também não destroem:
No barro não rolem
O amor e o amar
(Pra que em minha descida,
Caminho do mar,
Não encontre armadilha,
Emboscada, estorvo,
A quem pare em meu largo
Subir com amor
A descida pra lá,
O trajeto e o mar).
- Passa, passa, senhor,
Tu, eu deixo passar,
Deixando em rastilho
Muita alegria e dor
Que depois vai consigo
Destila-a em sombra e ar
Pra modo de passar um dia
Sem comida ou amizade,
Um dia sozinho que baste
A descida subindo à garra
Pras promessa areenta da praia.
Que fizeste por onde moras
Além de ver secar as horas
Que não passa sem as cicatriz,
E nem se vai sem marcar com “x”
As criança e as pereba
De ventre túrgido e grande
Com (algumas) duas perna
Fina e subnutrida
De esperança
Desmilinguida?
Tu descerá,
Com reza, pra lá,
E caminhará,
Caminho do mar;
Mas não te esqueça,
Retirante do azar,
Que vida, mesmo à reza,
Não faz graça, nem lá.
Que Deus Se logo te mostre
Pra apartar de ti muito sofre.
- Eu espero de lá,
Meu velho sem enxergar,
Espero poder é achar,
Menos água que mar,
Porque sei, de ouvir falar,
Que aquilo aonde quero chegar
Não é brincadeira
Nem pra quem sabe rezar:
Não deixa indelével
(Como não faz pra matar!)
Nem homem de ferro,
Ainda mais, quem dirá,
Aquele que não souber
Consigo levar
Umas conta de terço
Bendito pra se agarrar
Nas hora que, tu disseste,
Se seca no meu agreste,
Sertaneando sem reclamar,
Expulsando nós tudo em prece,
Faz descer a subida ao mar.
- As horas que de nós se esquece.
- Quem te ouve te crê sabido,
Pensa por Deus ter distinguido
Sorte
(Da muita
Labuta)
Da morte!
- Eu, por Deus, eu te juro,
Homem que eu esconjuro,
Que atravesso ponte ou muro
Sem deixar pra trás um furo
Por onde passe camelo futuro,
Nem quero, subindo, estar duro
De fome, de sede... Eu juro,
Pra esse homem que eu não engulo,
Digo alto, sem carência de sussurro,
Que a vida que vou encontrar
Me vai fazer muito jus
À canseira do meu caminhar...
Há recompensa sem pó, sem Jesus,
Seco de pedra que nós deve transpor?
Há recompensa sem fé
Renovada por Deus que nos faz vencer?
Se tu não sabia,
É que não pode enxergar,
Que com força e teimosia
(Mais ajuda que vai-se invocar)
Nós chega até no inferno,
E olha que eu é que sou cego,
Quanto mais naquela terra,
Pronta pra preparar
Pra quem quer poder domar
Essas caverna,
Que se diz caminho do mar.
- Em primeiro lugar,
Deixa esse negócio pra cá,
De dizer que não posso enxergar,
De propor que não sei rezar!...
Só pergunto por caução
Por causa de tua cabeça
Ainda cheia dos areal
Que, logo vi, se encasqueta
Com a “Terra Paradisíaca”
Que “Jorra Água De Bica”,
Jorrando oferta de emprego
(E tu enchia a burra em dinheiro...)
É não, hominho tolo,
Que tu acha que vai achar ouro?
Então, vai com Deus e não te esqueça:
Se terra fosse moleza,
Dava pra viver onde nasce
Sem precisão de sair tão à cata,
Que nem gado magriço que pasce,
Do que nós conhece de ouvir
(Que há quem chame de tal de Nata),
O de leite que mal tem aqui...
Sobretudo, quem dirá,
Ter as tal promessa do mar?
- Escarnece... mas não esqueça
A importância de um quer que seja,
Pequeno ou grande, que venha,
Pro que retira, - certa esperteza.
- Porque não seque de fome,
Tu encanta até serpente... que some...
(A criança não vai embora. De como até a turbamulta é corrida pela seca - bravia - que os assolara.)
- Deixar de lado cretinice
Gázea, em visgo, rebramindo...
Acho melhor esquecer que disse
Sobre a vida bobagem, do cimo
De montanha cercada co’água
Tão salgada quanto em ruína,
Ruína das coisa toda que mata
(Ou, pior, que deixa morrer menina
Em idade antes de ter com bebê,
Com pouca idade até pra camuflar
Boneca de barro, madeira... e crescer,
Virando boneca mulher com amar).
(Desesperado tropel carpindo desespero ao largo.)
- Cês viram, velhos e tonto,
Que lá vem o maldito bando?
Adianta correr agora?!
É melhor fazer que implora
Pra ver se eles se apieda,
Ver se hoje ao menos não leva
Com essa nossa vida boa de merda!
- Se esconde que eles não vê.
(...)
- Agora nós se levanta,
Sai de baixo das planta...
- Planta?! Deu pra variar?!
- Planta é modo de falar,
- Melhor que dizer asneira...
- Só pra não se cansar?!
- Bom, passou medo de brabeira...
- Passou mas pode voltar!
- Agora nós se levanta,
- Sai de baixo das pedra,
- Olha prum lado, olha proutro,
- Olha pro céu, pede à santa
- Pra receber nossa reza
- Pede e agradece não estar morto!
- Não agradece nem muito disso,
- Que bando que é bando tem volta:
- Mesmo sem aprontar rebuliço,
- Aparece do nada e volta,
- Volta com ronco maciço,
- Torna com muita revolta,
- Faz que deixou passar raiva
- E apronta raça de gracejo,
- Deixando gente feito massa
- De sangue nas chã que eu vejo!
- Bando que é bando ressurge,
- Traz sempre bala, espingarda,
- De cano com pena e ferrugem...
- (Soltando serena penugem)
- Acusa ser bando de guarda
- Que guarda galinha de bicho,
- Gambá ociosa e que preda
- Pinto e arremexe no lixo
- À cata do que nunca pega
- (Porque ninguém joga fora
- O que não tem nem pra si:
- Nem louco deixa de fora
- Comida podre por aqui).
-Bom, pessoas, passou, passou,
Agora tem escolha não:
Se eu digo já que: “não vou!”,
Morro aqui mais igual
Bicho ladrão vivendo de dor;
Se digo que: “parto pra lá!”,
Capaz de, no meio, cruzar
Com bando de Cora e Xerê,
Que até eles deu pra correr
Do que me espanta daqui, o meu lar,
Pra mim ir descendo longe,
Pra lugares que só Deus sabe onde,
Uma terra, caminho do mar.
(De como a poeira da malta finalmente assenta e revela inacreditavelmente que nada deixara de ser como será.)
-Já volto pra casa
(Que sou boi desgarrado)
Por onde a sobra
Das mesa forrada
De urubu com fome
E alegria os molda,
Nas cara, no corpo,
Os longo,
E os mole
Madeiro de pano:
Preto despinguelando,
Somos gente com fero,
Sou boi e boneco...
Asa de pena! nós faz que não vê
Pra modo é de muito melhor viver.
(O velho dorme, o menino suspira, o retirante retira.)