O DESTINO DE UM POVO

Poema de Honorato Ribeiro dos Santos.

Me diga, caro doutô se ocê nasceu no Ceará,

se é mermo um sofredô da seca qui tem por lá;

se é verdade me diga, qui o home dá fadiga

de ver tudo se acabá.

Me diga, caro doutô se nasceu no Piauí,

qui a fome se alastô em todo o nordeste enfim?

Pru que o nordestino sabe qui os bom projeto num cabe

pru pobre sertão partir.

Doutô, tô sabeno dum caso qui a seca qui o nordeste sofre

nem vem do céu e nem do acaso...

e nem a fome qui sofre o pobre;

é coisa de home guloso que quer sê tão puderoso

que quer viver como nobre.

Doutô, é triste vivê o cansaço vê gado berrar de fome e peste,

cachorro mostrar os ispinhaço em todo o sertão, té no leste

minino chorar de fome, muié, mocinha inté home

chorá de jueio fazeno prece.

Doutô, será qui Deus tá satisfeito?

Pru que o nordeste é tão disprezado?!

Doutô, o sertão é rico em leito e pode ter fartura, meu prezado!

É só os home querer agir, lá tem terra boa pra progridi

que Deus dá tudo barato.

Doutô, é triste a gente não sabê lê sê cego e só sirvir pra ser pião

pro patrão se inriquecê ferrar a gente como gado pra eleição

Eles sabe qui o nordestino é valente desde menino

mas sofre o mal da exploração.

Doutô, eu digo de todo o coração:

qui a seca qui sofre o sertanejo não vem do céu e nem do chão;

o chão dá tudo, é o que vejo, o qui farta mermo é educação

pois ela não é bom pro patrão ter sabença e ser gente com manejo.

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Um reencontro virtual com o velho e dileto mestre, leva-me abrir este espaço para que todos os colegas do velho Educandário, mate um pouco a saude de Zé Patricio.

Atendendo a seu pedido, texto publicado.

Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 07/10/2009
Reeditado em 26/11/2009
Código do texto: T1853010
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