TRISTEZA DO JECA
O Jeca, em sua tapera de chão batido
Solitário, mastiga um nervo cozido
Contempla o horizonte com olhar perdido
E pensa, solitário e um pouco aturdido
No tempo que passa e no viver sofrido
Embrulha um pedaço de fumo em palha
Em silêncio, ora: Deus me valha!
Porque nos confins o que se espalha
É a miséria que o faz viver de migalha
E tudo o que possui não passa de tralha
Um dia, esse caboclo muito amou
A morena que partiu e o abandonou
Aquela mulata - olhos cor de safira
Tripudiou no sofrimento desse caipira
Doce e amarga descoberta da mentira
Agora, sozinho no fim do mundo
Ele pensa no amor profundo
Que o atingiu bem no fundo
Traidor coração vagabundo
Tornou esse homem - moribundo
O que lhe resta de dignidade
Não permite que sinta saudade
Daquela mulher maldita
De corpo torneado, belo bronzeado
Cabelo engomado com laço de fita
Onde andará essa parasita?
A desgraçada era bonita!
Certamente nos braços de outro
Que lhe ofereça dinheiro e ouro
Melhor do que o amor desse tolo...