Sou Matuto

Seu doutô peço licênça:

Pra falá com mui respeito.

Pru quê só existe justíça

Pra quem tem muito dinheiro?

Pro pobre, negro e feio

A sentência sai lingeiro:

CULPADO!

É grande castigo.

Passá noites na cadeia,

Ser tratado como bicho.

É catinga, seu doutô!

Precisa ter estômbo

Pra suportá fedentina.

Pió que chiqueiro de porco!

Xilindró é coisa séria,

Lá só fica os piquenos.

Sou matuto, confesso:

Tenho medo da justícia,

Que é cega pru grande,

Mas tem vista pru lingüiça.

Sou inxirido, recunheço.

Sei que divia calá.

Mas si calo meu coração chora,

Se falo, ouço um passu cantá:

- Tu é matuto, anafabeto,

Preto, pobre, mai honesto.

Zé tu é livre! Pode voá!

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 06/05/2009
Reeditado em 23/10/2009
Código do texto: T1579252
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