Sou Matuto
Seu doutô peço licênça:
Pra falá com mui respeito.
Pru quê só existe justíça
Pra quem tem muito dinheiro?
Pro pobre, negro e feio
A sentência sai lingeiro:
CULPADO!
É grande castigo.
Passá noites na cadeia,
Ser tratado como bicho.
É catinga, seu doutô!
Precisa ter estômbo
Pra suportá fedentina.
Pió que chiqueiro de porco!
Xilindró é coisa séria,
Lá só fica os piquenos.
Sou matuto, confesso:
Tenho medo da justícia,
Que é cega pru grande,
Mas tem vista pru lingüiça.
Sou inxirido, recunheço.
Sei que divia calá.
Mas si calo meu coração chora,
Se falo, ouço um passu cantá:
- Tu é matuto, anafabeto,
Preto, pobre, mai honesto.
Zé tu é livre! Pode voá!