_________ Certa veiz, no arraiá _________

Jacaré

Certa veiz, no arraiá da Margarida e da Rosinha...

Ieu... Nada di bôbo, fui logo mi aconchegando,

E o pió!, é qui a Margarida era muito danadinha...

E quando ôiei pro lado — veio logo mi desfrutando.

Seu Benedito oiô co’a cara di quem num gostô,

E já puxô a pexêra, qui é pramórde nóis casá!

Disse qui a fia dele tava reservada prum tar dotô,

E, si eu num casá... Cum ninguém mais, ia namorá.

Coroné Benedito, é cabra da peste, valente e matadô,

Chamô um capataiz, qui é pramórde eu num corrê;

Qui o padre já tava a caminho — junto cum o ispetô...

Mais eu gosto é da Rosinha, e num sei o qui vô fazê!

Coroné Benedito

— Aqui, prá namorá..., num tem esse negócio di agarrá.

Aqui puressas banda, eu já capei pra lá di mêa dúzia...

Ocê bejô a Margarida, e agora num tem como iscapá!...

Ocê vai tê qui honrá, e rezá nos péis da Santa Lúcia.

Jacaré

— Mais, seu Benedito, eu num fiz nada co’a Margarida...!

Eu sô do beim, e sempre fui um homi respeitadô!...

Ela qui veio pra riba deu, e eu só ôiei pr’a preferida;

Só vim aqui mi divertí — tumá uns trago co’ o cantadô!

Já andei puressas banda toda do arraiá, di riba abaixo...

Naquele igarapé, bem aculá — prantei um pé di sapotí;

Qui é pramórde quando crescê... Nóis ficá lá imbaixo...

Só ieu e a Rosinha... Pra nóis namorá e ouví o Juriti.

Coroné Benedito

— Deixe di cunvecê, homi... Ocê num tem o qui querê!

Minha ordem já foi decretada, só li resta uma solução;

Casá co’a minha Margarida, qui é pramórde ocê vivê...

E nunca mais bejá fia de coroné, sem pedí permissão!

— Os preparativo do casamento já taum arrumado; oia lá!...

Num vá fazê vexame; qui hoje arrezorví dá uma chance;

“Tiziu” é moça direita e não vá fazê disfeita; e é donzela —

Nunca namorô!... Mais num vô fazê bestêra nesse romance.

— Eta caboclo, hoje vai sê uma festa di arrebentá o chão.

Contratei o Zé Pituca, da sanfona, no pandêro, o Macalé,

No triângulo, o Zé Cachumba, qui é um dos mió da região...

E na zabumba — esse num sei quem é — é um tar de Jacaré!

— Dizem qui é o mió dos zabumbêro, mió nunca si viu!...

O povo dança no ritmo do seu batuque, e sacode a puêra,

A noite intêra, até o sor raiá. Mais..., num podi dá um pio,

Pra num atrapaiá o tocadô, na hora do “Menino da portêra”.

— A comida qui a Rosinha preparô... Qui tá pra lá di baum...

Num vai fartá ninguém nesse arraiá; e num pode dá psiu!...

Muié casada tem gosto de chumbo, e só cria animação...

Num quero causá ninhum disgosto no casamento da “Tiziu”!

Narrador / Rosinha

— Antes de cumeçá o casório... A Rosinha... A fia mais bela

Do severo Benedito, num gesto di emoção, clamô ao coroné:

— “O zabumbêro é o meu amado Jacaré! E não ia dizê pra ela,

Pra num maguar o seu coração!... Agora, ocê pode tirá o chapé!”

Coroné Benedito

— Intonce, é ocê qui é o tar do zabumbêro, e qué minha fiinha?...

Tá baum! Di hoje im diante... Tá cunvidado pra tumá café!...

Apartí di hoje, cê vai namorá, e até pudê casá co’a Rosinha...

Mais..., purin-quanto... Só namorá!... Ouviu bem, seu Jacaré?!?...

— Chega di cunvecê, e vamu dá início ao forrobodó!

Paulo Costa

Junho de 2008.

Pacco
Enviado por Pacco em 10/03/2009
Reeditado em 06/10/2011
Código do texto: T1480001
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