LÁGRIMA D'UM CAIPIRA...

Lágrima d’um caipira

(Poet ha Abilio machado.0794)

Ihgora mi orça

si quisé preste tenção

essas são lenda que vivi no meu sertão

vi boitatá, saci e sombração

vi caipora, lobisome e inté berração

na lua cheia

a madrinha du matão

em nuvens branquinhas passear

ali incima

sobre as árveres e animais

negra formosa que causava arrepio

Ih que roubou meu coração

na madrugada qui mi reunia pr’uma prosa

som de viola sob luz de lampião

casinha humilde

fogão di lenha

pinhão na brasa

um gole de café

chão batido e parede de sapê

cumo era bão este tempo que já foi

tão longe ficou lá atráis

um dia ainda penso qui vorto

a morar naquelas bandas

onde inda a água corre

e os passarinhos comem aqui ó na minha mão

uma vida quasi sem destino

um dia vivido dia-a-dia

pescarias no alagado

e a pequena plantação

discansá na veia rede

de imbira trançada

dipindurada nos gaio d’um ipê

drumi sob o cuidado da lua

e desta lágrima qui teimosa aflora

dos óio d’um caipira

com saudades do seu chão...

Qui vontade de vortá prá minha serra

e ver de lá a lua cheia sobre o arraiá

até vê o lugarzin onde os amigo podem mi interrá

e mais uma vez na madrugada

senti o cumichão subi pela coluna

que é chegada a hora, dia e mês

de que a negra formosa disperta

aquela que enfeitiçou meu coração

vim sobre seu mundo

prá mi levá!

Ih di lá di cima eu vê toda esta terra

Que Deus deu prá nóis cuidá...

Acenar pros meu bicho

Oiá prá frente e mi deixá avuá!