JOÃO NORDESTINO
JOÃO NORDESTINO
Eduardo Mendonça
João Nordestino, um humilde lavrador,
caboclo do sertão, uma pessoa muito querida
tinha um coração rico de amor
era pai de uma menina muito sofrida.
A menina tinha os pezinhos aleijados
mas João trabalhava duro no pesado
pra poder arrumar alguns trocados
e operar a sua filha, dar-lhe mais vida.
A seca aumentava a sua pobreza
naquela pequena povoação
a menina era a única riqueza
na vida do sofrido João.
Ao ver sua filha na porta sentada
olhando os amigos na calçada
brincando de roda e de panelada
sentiu tremer o seu coração.
João decidiu fazer uma viagem
ir tentar a sorte na grande cidade
e levava na sua bagagem
disposição, amor e necessidade.
Com pouco tempo já se empregava
e o pouco dinheiro que ele arrumava
mandava pra sua filha que precisava
de auxílio, compaixão e piedade.
Na firma, João era solidário
tinha um coração de menino
era o melhor dos operários
e o trabalho mudou seu destino.
Nas suas tarefas era pontual
amigo de todos, muito sincero e leal
mas seu patrão era um homem mau
e não gostava de nordestino.
Num certo dia, numa madrugada
João sofreu um pequeno acidente
um garoto subiu com um carro na calçada
e atropelou aquele pobre inocente.
O veículo estava em alta velocidade
e aquele menino de pouca idade
com imprudência, sem responsabilidade
chocou-se com um poste mais à frente.
João, apenas sofreu um arranhão
mas assustou-se com aquela barbaridade
viu o garoto caído no chão
perdendo sangue à vontade.
Ao ver o menino passando mal
pegou um táxi que passava no local
levou-o para um hospital
ali mesmo, no centro da cidade.
João foi chamado à emergência
o garoto necessitava de uma transfusão
como ele tinha dado-lhe assistência
teria que achar uma solução.
Era Deus que guiava seu destino
João doou seu sangue nordestino
E mais tarde aquele menino
Já estava em plena recuperação.
O pobre João sentiu-se aliviado
e feliz por ter feito uma boa ação
mas se encontrava sem nenhum trocado
para poder pagar a condução.
O pouco dinheiro que tinha guardado
gastou com o garoto acidentado
e pra ir ao trabalho já estava atrasado
e só pensava na bronca do patrão.
Mas quem anda com Deus nunca está só...
Sentando na plataforma da estação
esperava que alguém dele tivesse dó
e lhe ajudasse naquela situação.
Rogando por Deus e Nossa Senhora
encontrou alguém naquela hora
que ouvindo ele contar sua história
arrumou-lhe o dinheiro da condução.
João foi chamado ao escritório
temia que seria punido
após passar por longo interrogatório
o patrão ficou ainda mais aborrecido.
Muitos colegas de profissão
comoveram-se com o problema do João
que era um colega de bom coração
mas, que do serviço foi despedido.
Muitos colegas costumavam faltar
e nunca tiveram nenhum castigo
João, na função, costumava dobrar
pra por em dia o serviço dos amigos.
Despediu-se dos colegas de profissão
entristecido por tanta ingratidão
e cada colega falava com emoção:
“João, é revoltante o que fizeram contigo”.
João ficou arrasado e logo decidiu
ao ver o bem ser vencido pelo mal
arrumou as malas e partiu
para a sua terra natal.
Decepcionado com aquele patrão ruim
decidiu em tudo dar um fim
e pensava que agindo assim
jamais voltaria à aquela capital.
Mesmo sendo bem exonerado
João não conseguia se conter
chegou em sua terra, arrasado
sem saber o que fazer.
Mas esqueceu aquela passagem sofrida
ao ver a sua filhinha querida
arrastando contente para lhe ver.
A filha já crescida, falava com emoção:
“Papai, eu tinha muita saudade de ti”...
“Todas as noites eu fazia a minha oração
eu jamais te esqueci.”
E a pobre Maria, esposa do João
sentindo tremer o seu coração
nem se importava com a sua situação
afinal, seu esposo estava ali.
João voltou a sua vida normal
voltou ao trabalho duro da roça
tentava esquecer aquela capital
cantando suas modas, puxando a carroça.
O Sertão era seu mundo, sua realidade
voltou a sentir paz e tranqüilidade
e só encontrava a sua felicidade
ao repousar com a família na palhoça.
Aos domingos ele não tinha preguiça
gostava da simplicidade que o sertão tem
acordava cedo e ia pra missa
e levava a sua filhinha também.
João nem se importava com os fracassos
carregava a menina nos braços
ele não sentia nenhum cansaço
aquela vida simples lhe fazia bem.
Mas num domingo ao sair pra rezar
João sentiu sua voz meio tremida
pois um amigo veio lhe avisar
que tinha um homem investigando sua vida.
E completou: “É um homem da alta sociedade
pra mim, um estranho lá da cidade
que ficou sabendo de toda a sua bondade
e do seu amor por sua filha querida”.
João saiu da igreja desconfiado
com a filha nos braços carregando
e percebeu que o homem engravatado
estava lhe observando.
João, ali mesmo, sem demora
pegou sua filha e foi embora
mas notou que naquela mesma hora
o homem estava lhe acompanhando.
E ele, apesar de todo o cansaço
com o corpo coberto pela poeira
chegou em sua casa com a filha nos braços
e a colocou na sua cama de madeira.
Era um rancho pobre, porém, hospitaleiro
sua filha repousava num colchão caseiro
e também num travesseiro
forrado com folhas de bananeira.
Aquele homem que tinha seguido o João
Ficou com as pernas estremecidas
sentiu o remorso cortar seu coração
jamais tinha visto tanto exemplo de vida.
Sentiu de perto como é o destino
Aproximou-se de João Nordestino
aquele homem de jeito granfino
assustava aquela família sofrida.
O homem estranho, emocionado
parou bem em frente ao João
dentro daquele lar esburacado
ao lado de um velho fogão.
Bom dia senhor, disse João desconfiado
e ao levantar os olhos ficou paralisado
pois estava ali bem do seu lado
o seu perverso e antigo patrão.
O pobre envergonhando, foi logo dizendo:
“O senhor está batendo em porta errada”.
Seu moço ficou sabendo
Que eu tenho uma vida honrada.
Sei que foi pro senhor que trabalhei
da sua firma eu sair como entrei
juro que nunca lhe roubei
de lá eu não peguei nada”.
“Você não fez nada João”, respondeu o homem.
Eu estou aqui pra lhe agradecer.
É que o remorso me consome
e eu queria muito lhe ver.
Graças ao teu exemplo tão divino
com o seu sangue nordestino
tu salvaste a vida do meu menino
e eu devo muito a você”.
“Quero consertar o mal que eu lhe fiz
quero pagar-te por minha ingratidão
neste mundo eu só serei feliz
se eu tiver o teu perdão.
Fui ao hospital e fiquei sabendo
que você mesmo acidentado e sofrendo
ajudou meu filho, que estava morrendo
com o teu sangue, querido João”.
E, naquele abraço com emoção
o João disse: “O senhor está perdoado”.
João tinha um bom coração
era um ser humano bem preparado.
Ele vivia com simplicidade
seu coração era só bondade
de todos tinha piedade
era um ser humano iluminado.
A sua filhinha que era aleijada
deu mais alegria ao pobre João
foi pra São Paulo e foi operada
sem ele gastar nenhum tostão.
João voltou ao seu trabalho novamente
com os mesmos colegas de antigamente
ganhou casa, carro e outros presentes
e era o maior amigo do filho do patrão.
O mundo é uma escola, a vida uma lição.
Cada um tem seu destino.
Nunca devemos pisar no nosso irmão
Por causa de poder, ou por ser granfino.
Aquele homem ingrato e despreparado
teve seu coração transformado
por causa de um pobre assalariado
por nome de João Nordestino.