Verde Cinzento
Chega de ser quimera
A depredação que impera
Destruindo seus próprios abrigos.
Leis e homens de faculdade
Atacam sem piedade
O verde no chão amigo.
Vejo com muita tristeza
A nossa mãe natureza
Que nos empresta seu pulmão.
Retribuímos com violência,
Sem pensar na conseqüência
Da futura geração.
O verde mudando de cor
Na lâmina de um trator
Varrendo este sertão,
Secando nossas nascentes
E pagando com a vida da gente
O preço da evolução.
Não tirem a natureza da mente,
Não esqueçam que veio de uma semente
Que germinou neste chão.
Tenho medo que no futuro
Não tenha mais ar puro
Para encher um só pulmão.
Deixem que os passarinhos
Voem para os seus ninhos
E que tenham onde repousar.
Dêem aos andarilhos errantes
Quando no sol escaldante
A sombra para descansar.
Não façam que a água pura e cristalina
Das borbulhantes minas
Seja coisa do passado.
Seria nosso próprio fim
Ver o verde só nos jardins
Dos homens afortunados.
Simpósio se cria
Para falar de ecologia
E proteger o meio-ambiente.
Não deixem impune o infrator
Seja matuto ou doutor
Não importando sua patente.
Que a caça não seja esporte
Não faça competição com a morte
Dos nossos animais selvagens,
Matando sem sentir fome
Só pela vaidade do homem
De mostrar sua coragem.
Nossa fauna vai-se acabando,
As flores das abelhas murchando,
E os pássaros sem seus poleiros.
Para espécie ser protegida
Vem a ciência sabida
Procriando em cativeiro.
O carvão de sua churrasqueira
Está vindo da madeira
Que protege nossas nascentes.
E o alto forno é alimentado
Com as árvores do passado
Que é o carvão do presente.
Nossa fruta silvestre
Já não mais se reveste
Para os pássaros alimentar.
Só se vê pássaro em retirada
À procura da morada
Onde possa procriar.
Acabando com o beija-flor
Nossos campos sem olor
Que perfumava nosso sertão.
O verde está amarelando
E a natureza sangrando
Com a ferida da erosão.
Não sei como seria
Mas terá que haver um dia,
Um progresso sem destruição.
Que as vidas sejam mais preservadas
Os inseticidas menos usados
Na nossa alimentação.
Meus jovens de agora:
Está chegando a hora
De sair de bandeira nas mãos,
Esta bandeira verde-amarela
Defenda este verde dela
Em prol de sua geração.
Com a sua humilde filosofia
Meu pai sempre dizia
Que estava chegando a hora.
Que o nosso futuro homem
Iria sentir fome
Jogando a comida fora.
Os homens do passado
Estavam preocupados
Com o futuro da natureza.
Que nesta ambiciosa corrida
Esqueceriam sua própria vida
Em busca de maior riqueza.
Dizer que o progresso é culpado,
Com isso ficamos parados
Numa cômoda posição.
É o mesmo que ver a casa arrombada
E manter a porta fechada
Depois que sai o ladrão.
Desculpe a franqueza
Deste homem da natureza
Que faz a contestação.
Eu fico amarfanhado,
Vendo o verde do meu cerrado
Dentro de um caminhão.
O lamento do homem primitivo
Chega a ser emotivo
Na sua explanação.
Ele faz em forma de lamento,
Tirando bem lá de dentro,
Como se fosse oração!